Há palavras que acendem, mas não fazem barulho,
um gesto que passa, um olhar quase nulo.
Como luz filtrada por vidros na manhã,
o reconhecimento toca — sem pedir atenção, sem clamar.
No vapor do café entre tropeços do dia,
uma mãe ouve “obrigado” — e a alma se alivia.
Um colega diz “bom trabalho” sem cenário,
e a tarde cinza muda seu tom ordinário.
No bilhete ao lado do pão ainda quente,
ou no recado breve que chega, surpreendente,
germinam sementes em silêncio lançadas —
brotos de cuidado em rachaduras caladas.
Validar é enxergar além da moldura,
é alcançar o outro sem quebrar a ternura.
É nomear o que passa despercebido,
dar voz ao esforço contido, escondido.
Mas há quem guarde o elogio no bolso fechado,
como um valor que nunca será trocado.
E assim o mundo perde seu calor e beleza,
onde poderia florescer mais gestos de gentileza.
Um “obrigado” não carrega o mundo nas costas,
mas sustenta alguém nas horas mais tortas.
Reconhecer é costurar o que se rompe na pressa,
é dizer “eu vejo você” — e abrir uma janela de promessa.
Sejamos fontes, não apenas corrente que passa,
mas presença que nutre, não apenas quem ultrapassa.
Pois em cada gesto que brota do coração,
pulsa o poder de começar uma linda canção.
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Autor:
Sezar Kosta (
Offline)
- Publicado: 8 de maio de 2025 13:40
- Comentário do autor sobre o poema: E aí, gente querida! Se acheguem um pouquinho que o Sezar vai cochichar no ouvido de vocês o segredinho por trás desses versos. Imaginem só: outro dia, no meio daquela correria que parece nos engolir, sabe? Tipo malabarista tentando equilibrar pratos e ainda responder ao celular... Pois bem, no meio desse "ziriguidum", eis que presencio uma cena singela. Um "obrigado" escapuliu dos lábios de alguém, assim, sem alarde, como um raio de sol tímido furando as nuvens. E a reação do outro lado? Um sorriso... não daqueles de comercial de margarina, mas um sorriso genuíno, que acendeu uma luzinha no rosto da pessoa. Foi como se, por um instante, o tempo parasse e só existisse aquela troca luminosa. Aquilo me tocou de um jeito... como um abraço quentinho em dia frio. Pensei: "Caramba, quanta força reside nesses pequenos reconhecimentos, nesses brilhos que às vezes passam batido!". Foi essa faísca, essa epifania cotidiana, que botou meus dedos para dançar no papel. E vocês, já sentiram um desses brilhos discretos iluminando o dia de vocês? Contem pra mim nos comentários! Adoro saber as impressões de vocês sobre essa melodia de palavras.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 12
- Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Melancolia..., Henri Moreira
Comentários1
Este poema é um sussurro necessário num mundo cada vez mais ruidoso e apressado. Ele nos lembra que nem toda validação precisa vir com holofotes — muitas vezes, é no gesto mínimo, na palavra leve, que mora o cuidado mais genuíno. A comparação entre o reconhecimento e a luz filtrada ou o vapor do café é lindamente precisa: ambos aquecem sem alarde, ambos tocam sem invadir.
A última estrofe é um convite poderoso: ser fonte. Não apenas passar, mas nutrir. O poema inteiro pulsa com essa intenção de restaurar o humano nas pequenas coisas. E ele acerta em cheio ao mostrar como um “obrigado”, um elogio simples, ou um recado afetuoso podem costurar o que o cotidiano desfia.
Ler isso é como receber um abraço sem braços — só com palavras que sabem exatamente onde pousar.
Meu amigo Melancolia, reconhecer o valor de alguém faz diferença no cotidiano. Um “obrigado” ou “bom trabalho” pode mudar o dia de uma pessoa, principalmente quando dito de forma sincera, sem esperar nada em troca. Pequenos gestos de reconhecimento, como um bilhete ou uma mensagem, mostram cuidado e atenção. Infelizmente, muitas pessoas guardam elogios e palavras de incentivo, como se fossem algo raro demais para serem compartilhados. Mas a verdade é que validar e reconhecer o esforço do outro torna o convívio mais leve e humano. Um simples gesto pode dar força para alguém continuar. Por isso, é importante não deixar passar essas oportunidades de demonstrar que você vê e valoriza quem está ao seu redor.
Seu comentário foi como aquele pão quentinho pela manhã: simples, mas faz toda diferença! Obrigado pela leitura e pelo carinho. Que nunca falte brilho nos seus dias, mesmo que ele venha em forma de pequenos gestos.
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