Sezar Kosta

CADA GESTO QUE BROTA DO CORAÇÃO

Há palavras que acendem, mas não fazem barulho,

um gesto que passa, um olhar quase nulo.

Como luz filtrada por vidros na manhã,

o reconhecimento toca — sem pedir atenção, sem clamar.

 

No vapor do café entre tropeços do dia,

uma mãe ouve “obrigado” — e a alma se alivia.

Um colega diz “bom trabalho” sem cenário,

e a tarde cinza muda seu tom ordinário.

 

No bilhete ao lado do pão ainda quente,

ou no recado breve que chega, surpreendente,

germinam sementes em silêncio lançadas —

brotos de cuidado em rachaduras caladas.

 

Validar é enxergar além da moldura,

é alcançar o outro sem quebrar a ternura.

É nomear o que passa despercebido,

dar voz ao esforço contido, escondido.

 

Mas há quem guarde o elogio no bolso fechado,

como um valor que nunca será trocado.

E assim o mundo perde seu calor e beleza,

onde poderia florescer mais gestos de gentileza.

 

Um “obrigado” não carrega o mundo nas costas,

mas sustenta alguém nas horas mais tortas.

Reconhecer é costurar o que se rompe na pressa,

é dizer “eu vejo você” — e abrir uma janela de promessa.

 

Sejamos fontes, não apenas corrente que passa,

mas presença que nutre, não apenas quem ultrapassa.

Pois em cada gesto que brota do coração,

pulsa o poder de começar uma linda canção.