Há palavras que acendem, mas não fazem barulho,
um gesto que passa, um olhar quase nulo.
Como luz filtrada por vidros na manhã,
o reconhecimento toca — sem pedir atenção, sem clamar.
No vapor do café entre tropeços do dia,
uma mãe ouve “obrigado” — e a alma se alivia.
Um colega diz “bom trabalho” sem cenário,
e a tarde cinza muda seu tom ordinário.
No bilhete ao lado do pão ainda quente,
ou no recado breve que chega, surpreendente,
germinam sementes em silêncio lançadas —
brotos de cuidado em rachaduras caladas.
Validar é enxergar além da moldura,
é alcançar o outro sem quebrar a ternura.
É nomear o que passa despercebido,
dar voz ao esforço contido, escondido.
Mas há quem guarde o elogio no bolso fechado,
como um valor que nunca será trocado.
E assim o mundo perde seu calor e beleza,
onde poderia florescer mais gestos de gentileza.
Um “obrigado” não carrega o mundo nas costas,
mas sustenta alguém nas horas mais tortas.
Reconhecer é costurar o que se rompe na pressa,
é dizer “eu vejo você” — e abrir uma janela de promessa.
Sejamos fontes, não apenas corrente que passa,
mas presença que nutre, não apenas quem ultrapassa.
Pois em cada gesto que brota do coração,
pulsa o poder de começar uma linda canção.