nada te prepara para o depois, né?

sofi

meu coração se esfriou

quando percebi

que novamente

ele sangrara por você

ferido

ao avesso

morte

o jardim da minha alma choveu

e em cada gota de chuva

haviam poesias desenhadas por mim

que você nunca lerá.

o abraço que abraça,

o beijo que beija,

paz que aquece

pera, paz?

o que foi a paz?

as noites que minhas lágrimas serviram de travesseiro?

meu coração ser revirado em carne viva?

dos seus surtos que me feriam?

mentalmente e fisicamente

amor?

amor foi te encontrar em cada esquina do labirinto do meu coração?

amor foi te esperar até que o café esfriasse,

enquanto você se aquecia em outra pessoa?

amor foi nao desistir?

por onde anda você?

se abrigou em outro corpo,

como sempre fez?

para roer outro coração?

para queimar mais músicas de amor?

para embaralhar o significado de amar de outras pessoas?

você vai voltar?

queria agarrar você em meus braços

em minha alma

Pois minha alma

Se amarrou na sua

(Só nao sabia que da mesma forma que se amarrou, se enforcou)

deixou de ser brilhante

para ser oca

como uma casca.

quando você beijou ela

você me apagou?

quando revirou o tecido das roupas dela

sua memória não falou?

quando você a machucou (se teve coragem)

as lágrimas dela eram amargas como meu coração se tornou depois de te conhecer?

você sussurra as palavras que sussurrava pra mim?

você beija o rosto salgado de lágrimas dela

como fez comigo?

você gagueja quando fica nervoso com ela?

como fazia comigo?

preciso correr

me inventar

me quebrar

morrer

renascer

desvirar minhas entranhas

tirar você da minha carne.

da minha alma.

da minha vista.

do buraco que você ocupa meu coração,

o deixando ferido.

para te deixar ir.

para te ver dançando na cabeça de outras mulheres

te ver sorrindo

te ver morrendo.

que um dia essas poesias se queimem

como as músicas de amor se queimaram,

no momento que vi seus olhos deixando de brilhar nos meus.

 

será que o brilho nos olhos dela

são mais reluzentes

que os meus

quando tu jurava

me amar?

 

ela conhece a linha do seu corpo como eu desenhei

com meus dedos?

 

o coração dela é queimado

como o meu foi carbonizado?

quando você me virou do avesso

pra revirar minhas emoções

e me deixar descosturada

revirada

e confusa?

 

ela segura suas lágrimas de bebê

quando você chora

quando seu coração chora

 

e ela sabe porque seu coração chora?

ela sabe como eu soube?

quando você se revirou comigo,

mostrando as feridas mais inflamadas do seu ser?

 

ela conhece seus traumas a dedo

como eu conheço?

ela sabe dos seus surtos de raiva?

 

ela plantou um jardim na sua alma?

como eu nunca pude plantar,

pois você queimou minhas sementes

e meu coração.

 

mãos e corpos dançam comigo

me levam pra uma valsa

mas eu só fico te observando

no canto da sala

beijando o rosto dela

como beijou o meu

quando minha dor foi exposta pra você

beijo salgado

misturado com lágrimas e saudade

 

eu ainda lembro do seu toque

enquanto chorava

quando foi tarde demais

 

meu alfabeto foi você

minha maior saudade

rastro no vazio da minha mente

 

seu amor é vazio

sempre foi

mas foi nesse vazio

que eu me aconcheguei

só pra estar com você

 

posso me encantar

beijar

apaixonar

mas no fim do dia meu amor,

eu vejo você novamente

sorrindo

gaguejando (como você fazia)

no fundo da minha mente

 

ela te conhece como eu conheci?

ela sabe que você gagueja quando fica nervoso?

ela sabe que você vira o rosto e sorri quando fala algo bobo?

ela conhece o motivo das suas lágrimas?

ela sabe da sua família?

ela sabe lidar com seus surtos?

ela sabe o pq vc mostra o dedo do meio pro seu irmãozinho?

ela sabe que sua mãe é vaidosa?

ela sabe que você nunca provou sushi?

ela sabe que você ama parmegiana?

 

o brilho mais reluzente que eu me lembro

de ter visto

foi o dos meus olhos

quando uma gota de esperança me anestesiou

no dia que pensei que finalmente

daríamos certo

“o depois chegou”

achei que esse seria nosso “depois”

que Marisa Monte tanto falou

mas acabamos do mesmo jeito

se xingando

se odiando

se bloqueando

você mergulhando em corpos novos

e eu escrevendo linhas de palavras

carregadas de uma dor incessante no peito

da perda.

  • Autor: sofi (Offline Offline)
  • Publicado: 4 de maio de 2025 15:38
  • Comentário do autor sobre o poema: o primeiro amor te ensina te mata mas te reconstrói com essa poesia, vomitei todo o emaranhado de dor que carrego comigo.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 3


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