Mas chamo não a ti

Annabel-Lee

Eu sinto tua falta, mas em mim, silêncio,
Mas chamo não a ti, mas a sombra que se foi.
Rompo o passado com violência,
Como espelhos que perdem seu fio.

A chuva apaga os nomes,
Que estavam escritos no sonho fugaz.
Memória um véu úmido,
Os ventos batem contra o vidro da paz.

Tu como cheiro, insuportável,
Tu como sombra, não me deixas dormir.
Fechei atrás de mim o véu do inverno,
A porta, onde a chave é o broto a existir.

Tu partiste e teu suspiro se foi.
Estou sozinha nem aqui, nem agora.
Memória meu sofrimento, que dói,
A promessa sólida do rio congelado.

Comentários +

Comentários1

  • Melancolia...

    Que dor delicada você transformou em poesia… É como se cada linha fosse um sussurro vindo de um lugar entre a memória e o vazio. A ausência aqui não é só da pessoa, mas do tempo, do lugar, da própria paz — tudo se dissolve em lembranças úmidas, partidas e ecos que não cessam.

    A forma como você fala da sombra, do cheiro, da promessa congelada… tudo isso toca fundo.

    É como se a alma estivesse presa em um inverno que ainda não passou, mesmo com a porta fechada. Mas há algo bonito também na ideia do “broto a existir” — como se, mesmo em meio ao gelo, algo pudesse florescer.

    Obrigado por compartilhar um pedaço tão sincero do sentir.

    É nesses versos que a gente reconhece a beleza até da dor.



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