O PESO DAS PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS

Sezar Kosta

Já fui tantas coisas que me esqueço das cores do meu próprio nome.

Fui o riso dissolvido na poeira dourada das tardes,

a febre que trincava os azulejos da noite,

e o susto das manhãs

que se abriam como janelas para o vazio.

 

Fui o menino que corria atrás do vento—

sentia o cheiro doce do mato,

o suor escorrendo,

a esperança de alcançar algo invisível.

 

Depois, fui o homem parado na esquina,

vendo o vento partir,

levando promessas

que guardei em caixas de sapato

e nunca abri.

 

Crescer dói como sapato apertado,

e o mundo, sempre um número maior

do que meus pés podiam calçar.

 

A infância: fábrica de eternidades,

a juventude: mãos trêmulas

quebrando os relógios.

Hoje, sou o eco de risos engolidos,

o cheiro de terra molhada

depois da chuva que não caiu.

 

Mas, talvez, seja mais verdadeiro agora,

feito árvore que carrega cicatrizes

e, mesmo assim, floresce.

 

Afinal, quem somos nós

senão a soma das promessas esquecidas

e dos sonhos que ainda doem

quando o vento passa?

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 2 de maio de 2025 22:26
  • Comentário do autor sobre o poema: Sabe aqueles dias em que, de repente, lembramos das promessas que guardamos como figurinhas raras e nunca trocamos? Pois é… Foi nesse baú de memórias que encontrei a inspiração para este poema. Entre sapatos apertados e ventos que só levam—e nunca trazem—descobri que crescer é um esporte radical com direito a tropeços líricos e algumas cicatrizes floridas. Agora, confesso: estou curioso para saber como esse vento bateu aí do outro lado. Me conta nos comentários o que sentiu? Vamos trocar promessas e risos (ou pelo menos algumas palavras)!
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 26
  • Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Austin Pascoal
Comentários +

Comentários2

  • Maria dorta

    Seu poema tem um lirismo imenso,além das recordações que despertam em.no's nosso passado e algumas ilusões caídas pelo caminho por nós percorrido. Essa sua ternura nos envolve e acalenta. Aplausos!

  • Metamorfose

    Teu poema é um espelho da alma em movimento. Cada estrofe carrega a poesia das transformações: da infância leve ao peso dos silêncios adultos. É como se a vida toda coubesse em tuas palavras, entre sapatos apertados e promessas guardadas. Um texto que toca fundo — como o cheiro de terra molhada depois da chuva que não caiu. Parabéns por escrever algo tão verdadeiro e bonito!



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.