Sezar Kosta

O PESO DAS PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS

Já fui tantas coisas que me esqueço das cores do meu próprio nome.

Fui o riso dissolvido na poeira dourada das tardes,

a febre que trincava os azulejos da noite,

e o susto das manhãs

que se abriam como janelas para o vazio.

 

Fui o menino que corria atrás do vento—

sentia o cheiro doce do mato,

o suor escorrendo,

a esperança de alcançar algo invisível.

 

Depois, fui o homem parado na esquina,

vendo o vento partir,

levando promessas

que guardei em caixas de sapato

e nunca abri.

 

Crescer dói como sapato apertado,

e o mundo, sempre um número maior

do que meus pés podiam calçar.

 

A infância: fábrica de eternidades,

a juventude: mãos trêmulas

quebrando os relógios.

Hoje, sou o eco de risos engolidos,

o cheiro de terra molhada

depois da chuva que não caiu.

 

Mas, talvez, seja mais verdadeiro agora,

feito árvore que carrega cicatrizes

e, mesmo assim, floresce.

 

Afinal, quem somos nós

senão a soma das promessas esquecidas

e dos sonhos que ainda doem

quando o vento passa?