Por Giuglia Anghinoni
No instante agudo em que a dor floresce,
tudo é espinho, tudo é fogo e fim.
O peito pesa mais que se parece,
e a alma veste luto dentro de mim.
As horas passam — surdas, quase mortas —
não trazem cura, só arrastam o chão.
Mas há silêncio abrindo outras portas
nas frestas do que antes foi paixão.
O tempo não é sábio por piedade,
nem apaga a sombra de um adeus.
Ele apenas leva a tempestade
e ensina a conviver com dias seus.
O que era corte, um dia vira pele,
e o que sangrava, já não quer doer.
A dor se aquieta, aprende e não repele:
aceita a paz que vem de não querer.
E assim, aos poucos, sem alarde ou pressa,
o tempo estende um pano sobre a dor.
Não cura tudo — mas a alma acessa
o espaço onde ainda cabe o amor.
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Autor:
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- Publicado: 29 de abril de 2025 10:01
- Comentário do autor sobre o poema: Esse poema nasceu de uma dor que parecia não ter fim. Escrevê-lo foi uma forma de respirar quando as palavras do mundo já não me alcançavam. Ele é sobre o tempo — não como um curandeiro mágico, mas como uma brisa insistente que, dia após dia, vai desbotando o peso das ausências. "Cicatriz do Vento" é minha forma de lembrar que sobreviver à dor também é um tipo de vitória silenciosa. E que, mesmo que não cure tudo, o tempo ensina a viver com mais leveza.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 5
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