Por Giuglia Anghinoni
No instante agudo em que a dor floresce,
tudo é espinho, tudo é fogo e fim.
O peito pesa mais que se parece,
e a alma veste luto dentro de mim.
As horas passam — surdas, quase mortas —
não trazem cura, só arrastam o chão.
Mas há silêncio abrindo outras portas
nas frestas do que antes foi paixão.
O tempo não é sábio por piedade,
nem apaga a sombra de um adeus.
Ele apenas leva a tempestade
e ensina a conviver com dias seus.
O que era corte, um dia vira pele,
e o que sangrava, já não quer doer.
A dor se aquieta, aprende e não repele:
aceita a paz que vem de não querer.
E assim, aos poucos, sem alarde ou pressa,
o tempo estende um pano sobre a dor.
Não cura tudo — mas a alma acessa
o espaço onde ainda cabe o amor.