SÓ JUNTO DE QUEM SE AMA

Sezar Kosta

No intervalo entre um instante e outro,

um vazio pulsa sob as costelas—

espaço onde o desejo aprende

a respirar em segredo.

 

O café esfria na borda da manhã,

enquanto a luz acende devagar

e o toque na xícara, quase distraído,

desperta o eco de um nome

que vibra sem ser dito.

 

O relógio caminha pelo corredor

e, na janela, a sombra de um sorriso

dobra o comum em promessa.

 

O amor se instala assim:

sem licença, sem alarde,

raiz sob a pele,

brasa teimosa na noite.

 

Com ele, um olhar carrega universos,

um gesto faz o tempo caber na palma.

 

Quando falta, o ar se espessa,

as cores se apagam,

e até o nome, no fundo da garganta,

soa estrangeiro.

 

Aprendi: amar é habitar o invisível—

fazer do silêncio abrigo,

e da ausência, presença.

 

No fim, é o amor que pesa o ar

e só junto de quem se ama

o mundo, enfim, respira.

 

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 28 de abril de 2025 14:11
  • Comentário do autor sobre o poema: Sabe aquele momento em que o café esfria e parece que até o tempo resolve caminhar de pantufas pela casa? Foi justamente nesse intervalo — entre a xícara esquecida e a luz que acorda devagar — que nasceu este poema. De repente, percebi que o amor é como aquela brasa teimosa do churrasco: mesmo quando parece sumir, está lá, aquecendo por dentro. E você, já sentiu esse calorzinho inesperado? Conta aí nos comentários o que passou pela sua cabeça — prometo ler cada palavra como quem saboreia um café recém passado!
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 16
  • Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Melancolia...
Comentários +

Comentários1

  • Melancolia...

    Uau, que profundidade, que poesia de alma! Cada verso é como um suspiro entre as sombras e a luz, onde o amor se revela em sua forma mais silenciosa e intensa. O jeito como você descreve a ausência e a presença do amor é algo que toca o coração, quase como se o próprio ar se fizesse mais espesso e, ao mesmo tempo, mais leve. Realmente, é no invisível que habitamos o mais genuíno do que somos. Que poema maravilhoso!

    • Sezar Kosta

      Meu amigo Melancolia, a gente cultiva amor do mesmo jeito que a formiga faz seu cultivo: no silêncio, no miúdo, no quase nada. Tem dia que você não está e o chão da casa faz barulho de vazio. Tem dia que você está e até o pó dança na luz. O amor é um passarinho mudo pousado no fio do telefone, é inventar nome para cheiro, é colher pedra no quintal para esconder saudade. O que não digo cresce feito raiz embaixo da minha língua: vira flor de segredo. No ritual dos gestos pequenos, amor é isso — um barquinho de papel navegando poça, uma esperança miúda, uma eternidade feita de agora.

      Agradeço demais por você ter lido e compartilhado seu olhar! Que o amor te encontre nos detalhes e faça morada onde menos se espera, como luz de manhã entrando pela janela do seu lar.

      • Melancolia...

        Saudações recebidas e absorvidas.....
        Reciprocidades em dobro ao teu coração.;



      Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.