No intervalo entre um instante e outro,
um vazio pulsa sob as costelas—
espaço onde o desejo aprende
a respirar em segredo.
O café esfria na borda da manhã,
enquanto a luz acende devagar
e o toque na xícara, quase distraído,
desperta o eco de um nome
que vibra sem ser dito.
O relógio caminha pelo corredor
e, na janela, a sombra de um sorriso
dobra o comum em promessa.
O amor se instala assim:
sem licença, sem alarde,
raiz sob a pele,
brasa teimosa na noite.
Com ele, um olhar carrega universos,
um gesto faz o tempo caber na palma.
Quando falta, o ar se espessa,
as cores se apagam,
e até o nome, no fundo da garganta,
soa estrangeiro.
Aprendi: amar é habitar o invisível—
fazer do silêncio abrigo,
e da ausência, presença.
No fim, é o amor que pesa o ar
e só junto de quem se ama
o mundo, enfim, respira.