Sezar Kosta

SÓ JUNTO DE QUEM SE AMA

No intervalo entre um instante e outro,

um vazio pulsa sob as costelas—

espaço onde o desejo aprende

a respirar em segredo.

 

O café esfria na borda da manhã,

enquanto a luz acende devagar

e o toque na xícara, quase distraído,

desperta o eco de um nome

que vibra sem ser dito.

 

O relógio caminha pelo corredor

e, na janela, a sombra de um sorriso

dobra o comum em promessa.

 

O amor se instala assim:

sem licença, sem alarde,

raiz sob a pele,

brasa teimosa na noite.

 

Com ele, um olhar carrega universos,

um gesto faz o tempo caber na palma.

 

Quando falta, o ar se espessa,

as cores se apagam,

e até o nome, no fundo da garganta,

soa estrangeiro.

 

Aprendi: amar é habitar o invisível—

fazer do silêncio abrigo,

e da ausência, presença.

 

No fim, é o amor que pesa o ar

e só junto de quem se ama

o mundo, enfim, respira.