Sentimentos,
esses pássaros sem gaiola,
dançam como folhas ao vento,
sem pedir permissão para pousar.
São como rios que desconhecem margens,
carregando nas correntezas
o que somos e o que tememos ser.
Esta noite,
sonhei com um deserto onde as dunas falavam,
e um andarilho caminhava,
os pés marcando a pele áspera da areia.
Ele encontrou uma flor solitária,
tímida, mas viva,
com pétalas que pareciam sussurrar segredos ao vento.
Ali, no silêncio,
ele percebeu que o deserto não era vazio,
mas guardava universos inteiros sob a superfície,
raízes que se agarravam à aridez
como se desafiassem o impossível.
E não era apenas a flor.
Era o que ela carregava:
a promessa de resiliência,
o grito silencioso de quem sobreviveu
aos dias sem chuva.
O andarilho, então,
não se apaixonou pela beleza da flor,
mas pelo que ela suportou para existir.
Na vastidão caótica dos nossos sonhos,
os sentimentos são assim:
um encontro breve,
um instante que sangra eternidade.
Eles chegam sem aviso,
como uma tempestade de areia,
e nos deixam cobertos de memórias
que não pedimos,
mas que carregamos como marcas no coração.
E quando tudo se acalma,
quando o vento silencia,
resta apenas a flor,
e suas raízes profundas,
lembrando-nos que até na solidão do deserto,
há vida,
há sentido,
há amor crescendo em lugares improváveis.
Então, ao acordar,
levei comigo a certeza:
os sentimentos são livres, sim,
mas é o que eles plantam em nós
que nos dá chão,
mesmo quando caminhamos
em terras que parecem inférteis.
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Autor:
Sezar Kosta (
Offline)
- Publicado: 26 de abril de 2025 12:10
- Comentário do autor sobre o poema: Os sentimentos, como ventos errantes, são imprevisíveis e soltos. Não podemos prendê-los ou direcioná-los. Eles surgem como relâmpagos, intensos e fugazes, criando momentos inesperados que nos tocam profundamente. Há algo intrigante nessa liberdade, onde as coisas acontecem sem aviso, e o tempo parece se desordenar. Hoje, em meus pensamentos, vi um jovem que, perdido em uma planície árida, encontrou uma ave que cantava sozinha. Foi como se, naquele segundo, ele fosse capaz de entender a melodia daquele canto e sentisse que sua alma precisava daquela canção para se completar.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 8
- Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta
Comentários1
Em cada verso, a revelação de que a vida, mesmo entre as areias do silêncio, encontra um jeito de florescer. Entre sentimentos livres e raízes invisíveis, este poema nos lembra: a existência é feita de instantes frágeis que carregam eternidades. Adorei o poema.
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