Sentimentos,
esses pássaros sem gaiola,
dançam como folhas ao vento,
sem pedir permissão para pousar.
São como rios que desconhecem margens,
carregando nas correntezas
o que somos e o que tememos ser.
Esta noite,
sonhei com um deserto onde as dunas falavam,
e um andarilho caminhava,
os pés marcando a pele áspera da areia.
Ele encontrou uma flor solitária,
tímida, mas viva,
com pétalas que pareciam sussurrar segredos ao vento.
Ali, no silêncio,
ele percebeu que o deserto não era vazio,
mas guardava universos inteiros sob a superfície,
raízes que se agarravam à aridez
como se desafiassem o impossível.
E não era apenas a flor.
Era o que ela carregava:
a promessa de resiliência,
o grito silencioso de quem sobreviveu
aos dias sem chuva.
O andarilho, então,
não se apaixonou pela beleza da flor,
mas pelo que ela suportou para existir.
Na vastidão caótica dos nossos sonhos,
os sentimentos são assim:
um encontro breve,
um instante que sangra eternidade.
Eles chegam sem aviso,
como uma tempestade de areia,
e nos deixam cobertos de memórias
que não pedimos,
mas que carregamos como marcas no coração.
E quando tudo se acalma,
quando o vento silencia,
resta apenas a flor,
e suas raízes profundas,
lembrando-nos que até na solidão do deserto,
há vida,
há sentido,
há amor crescendo em lugares improváveis.
Então, ao acordar,
levei comigo a certeza:
os sentimentos são livres, sim,
mas é o que eles plantam em nós
que nos dá chão,
mesmo quando caminhamos
em terras que parecem inférteis.