Sezar Kosta

RAÍZES NO DESERTO

Sentimentos,

esses pássaros sem gaiola,

dançam como folhas ao vento,

sem pedir permissão para pousar.

São como rios que desconhecem margens,

carregando nas correntezas

o que somos e o que tememos ser.

 

Esta noite,

sonhei com um deserto onde as dunas falavam,

e um andarilho caminhava,

os pés marcando a pele áspera da areia.

Ele encontrou uma flor solitária,

tímida, mas viva,

com pétalas que pareciam sussurrar segredos ao vento.

Ali, no silêncio,

ele percebeu que o deserto não era vazio,

mas guardava universos inteiros sob a superfície,

raízes que se agarravam à aridez

como se desafiassem o impossível.

 

E não era apenas a flor.

Era o que ela carregava:

a promessa de resiliência,

o grito silencioso de quem sobreviveu

aos dias sem chuva.

O andarilho, então,

não se apaixonou pela beleza da flor,

mas pelo que ela suportou para existir.

 

Na vastidão caótica dos nossos sonhos,

os sentimentos são assim:

um encontro breve,

um instante que sangra eternidade.

Eles chegam sem aviso,

como uma tempestade de areia,

e nos deixam cobertos de memórias

que não pedimos,

mas que carregamos como marcas no coração.

 

E quando tudo se acalma,

quando o vento silencia,

resta apenas a flor,

e suas raízes profundas,

lembrando-nos que até na solidão do deserto,

há vida,

há sentido,

há amor crescendo em lugares improváveis.

 

Então, ao acordar,

levei comigo a certeza:

os sentimentos são livres, sim,

mas é o que eles plantam em nós

que nos dá chão,

mesmo quando caminhamos

em terras que parecem inférteis.