Uma fome insaciável

Isis P. Told

Estou com fome,  
fome de falar.  
Preciso dizer, preciso cuspir  
o que mastigo há tanto.  

"Não podes. Cala-te.  
Engole.  
Dissolve tuas palavras  
nos dentes do silêncio.  
Alimenta-te de ti mesmo.  
Engula o que te sobra,  
ninguém deve ouvir."  

Mas não sacia.  
Não há sabor  
no banquete de ideias guardadas.  
É um festim amargo,  
que me faz mastigar a mim,  
repetindo-me inteiro.  

Preciso mais.  
Mais do mesmo vazio,  
como quem busca plenitude  
num prato sempre raso.  

Vai que, um dia, talvez,  
comendo o que penso,  
eu me veja  
menos submisso  
à fome de falar  
que, não importa o quanto cale,  
nunca me deixará.  

  • Autor: Told (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 24 de abril de 2025 00:02
  • Comentário do autor sobre o poema: Coma, coma... mas cedo ou tarde, transborda, explode.
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 24
  • Usuários favoritos deste poema: Melancolia..., Poeta anônima, Carrietta
Comentários +

Comentários1

  • Melancolia...

    Bom quando colocamos pra fora...
    Gostei do poema..

    • Isis P. Told

      Sim, é como tirar um peso das costas.
      Muito obrigado, alias!



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