Ao anoitecer de sexta

Iaraxwz

O dia escorre por entre galhos retorcidos de um cajueiro,  

enquanto a luz do poste, obediente, desperta  

para iluminar o que já começa a adormecer.  

Pela janela do ônibus,  

as estrelas ensaiam sua entrada - tímidas por entre nuvens que insistem em ofuscar seu brilho.  

 

Os carros seguem, indiferentes, como se o mundo nunca tivesse sentido dor.  

Os pássaros retornam aos seus abrigos,  

como quem ainda sabe onde repousa o alívio.  

 

Mas há um incêndio mudo no peito,  

uma brasa que não consome, nem some.  

O tempo engana - é sexta-feira, eles dizem,  

mas no corpo, pesa como o último suspiro de um domingo. 

 

E então, no escuro macio da noite que se forma,  

fica a pergunta que ecoa sem resposta:  

o que é mais real - o que o mundo mostra,  

ou o que arde quieto por dentro, sem nome?

  • Autor: Iara (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 18 de abril de 2025 18:53
  • Categoria: Triste
  • Visualizações: 5
  • Usuários favoritos deste poema: MAYK52
Comentários +

Comentários1

  • MAYK52

    Muito interessante poema. Muitas vezes, o que se passa à nossa volta, é bem menos importante para nós, do que o que dentro no nosso eu, nos atormenta e inquieta.
    Gostei bastante, cara Lara.
    Abraço



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.