O dia escorre por entre galhos retorcidos de um cajueiro,
enquanto a luz do poste, obediente, desperta
para iluminar o que já começa a adormecer.
Pela janela do ônibus,
as estrelas ensaiam sua entrada - tímidas por entre nuvens que insistem em ofuscar seu brilho.
Os carros seguem, indiferentes, como se o mundo nunca tivesse sentido dor.
Os pássaros retornam aos seus abrigos,
como quem ainda sabe onde repousa o alívio.
Mas há um incêndio mudo no peito,
uma brasa que não consome, nem some.
O tempo engana - é sexta-feira, eles dizem,
mas no corpo, pesa como o último suspiro de um domingo.
E então, no escuro macio da noite que se forma,
fica a pergunta que ecoa sem resposta:
o que é mais real - o que o mundo mostra,
ou o que arde quieto por dentro, sem nome?