Eu vi na morte, vida

Carrietta

Eu Fiz uma autópsia em mim 

 — comecei pela cabeça — rasguei a pele com um bisturi cego — 

Sentindo meu cérebro fúnebre —

Nada demais aqui — Senti como uma rajada de vento indo embora — 

Desço um pouco — A face — Rejeito —

Não quero sentir dor em meu deleito — 

Ao pescoço as cordas se soltaram ao cortar —

Dando espaço pro sangue espalhar —

Mas está seco, com o tempo — sendo terreno para as larvas — 

Elas que estão devorando meu corpo —

Sem permissão — Oh intrusão, por que invadem meu fosso e destroem minha feição? — Me deixa pálida e asquerosa — Não que eu já não fosse assim — porém incomoda 

Abro a barriga — Os órgãos fedem — Oh decomposição — Por que aflige o que há em mim — Retiro o pulmão e começo a examinar — Depois o coração — Batido tanto que se amassou e se tornou em podre — Depois o rim — Que rejeitou cuidado da água até o fim — o fígado — Que se mutilou — Mas só isso — Minhas tripas já muchas, vazias - a carcaça — e por fim a alma — Ó podridão — Nem se fala 

As larvas, os bichos, insetos — gritos sussurrados devoram meu corpo e minha alma — Não me deixam descansar — Pelo amor deus façam isso logo — mas

Diante de toda invasão — Toda podridão — Tanta coisa não vista pelo olho — Eu percebi na natureza da autópsia — Ali — Diante de meus olhos eu vi —

na morte, vida.

 

  • Autor: Carrie (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 18 de abril de 2025 00:11
  • Comentário do autor sobre o poema: Um poema extremamente pessoal sobre como eu me vejo, e uma reflexão no final. O poema de número 35 dos 66 que escrevi.
  • Categoria: Triste
  • Visualizações: 6
  • Usuários favoritos deste poema: MAYK52
Comentários +

Comentários1

  • MAYK52

    Poema muito intenso e introspetivo. A forma corrosiva como o poeta se vê a si próprio, é forte. Todavia, entende, que nesta podridão interior, nesta morte, está o seu renascer das cinzas, qual Fênix.
    Gostei bastante, cara Carrietta.

    Beijos e abraços.



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