Carrietta

Eu vi na morte, vida

Eu Fiz uma autópsia em mim 

 — comecei pela cabeça — rasguei a pele com um bisturi cego — 

Sentindo meu cérebro fúnebre —

Nada demais aqui — Senti como uma rajada de vento indo embora — 

Desço um pouco — A face — Rejeito —

Não quero sentir dor em meu deleito — 

Ao pescoço as cordas se soltaram ao cortar —

Dando espaço pro sangue espalhar —

Mas está seco, com o tempo — sendo terreno para as larvas — 

Elas que estão devorando meu corpo —

Sem permissão — Oh intrusão, por que invadem meu fosso e destroem minha feição? — Me deixa pálida e asquerosa — Não que eu já não fosse assim — porém incomoda 

Abro a barriga — Os órgãos fedem — Oh decomposição — Por que aflige o que há em mim — Retiro o pulmão e começo a examinar — Depois o coração — Batido tanto que se amassou e se tornou em podre — Depois o rim — Que rejeitou cuidado da água até o fim — o fígado — Que se mutilou — Mas só isso — Minhas tripas já muchas, vazias - a carcaça — e por fim a alma — Ó podridão — Nem se fala 

As larvas, os bichos, insetos — gritos sussurrados devoram meu corpo e minha alma — Não me deixam descansar — Pelo amor deus façam isso logo — mas

Diante de toda invasão — Toda podridão — Tanta coisa não vista pelo olho — Eu percebi na natureza da autópsia — Ali — Diante de meus olhos eu vi —

na morte, vida.