Havia um quintal no começo da vida.
Um chão batido, quente de sol,
onde o mundo cabia inteiro
entre a goiabeira e a cerca.
Ali, os dias escorriam
sem urgência,
sem relógio,
sem passado.
A infância era um estado de espírito.
Eu a guardava nos bolsos,
entre pedrinhas lisas e sonhos de vento —
e ninguém me dizia
que o tempo não volta.
Depois, veio o colégio.
O caderno de capa preta,
as palavras que cortavam
mesmo sem eu entender.
A juventude soprou seus avisos:
os sonhos crescem com juros.
E o coração — ingênuo contador de histórias —
insistia em amar o impossível.
Hoje, olho para trás
e vejo um menino que me observa.
Ele não sabe que sou eu.
E eu já não sei mais ser ele.
Mas no meio do caminho,
ainda há aquele quintal —
intacto em alguma dobra do tempo,
onde a vida cabe inteira
entre a goiabeira e a esperança.
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Autor:
Sezar Kosta (
Offline)
- Publicado: 12 de abril de 2025 05:46
- Comentário do autor sobre o poema: Ah, o tal do quintal… Sabe aquele lugar que mais parece uma gaveta secreta do tempo? Pois é. Um certo dia, tropecei na memória e caí direto nele — no quintal onde a vida começava sem nem saber que era vida. Dali nasceu este poema. Foi como abrir um velho baú e descobrir que os sonhos de infância ainda respiram, cheios de poeira e poesia. Se esse poema cutucou alguma lembrança aí dentro ou fez cócegas no coração, deixa um comentário. Quero muito saber como seu próprio quintal anda guardado na sua história.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 13
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