Havia um quintal no começo da vida.
Um chão batido, quente de sol,
onde o mundo cabia inteiro
entre a goiabeira e a cerca.
Ali, os dias escorriam
sem urgência,
sem relógio,
sem passado.
A infância era um estado de espírito.
Eu a guardava nos bolsos,
entre pedrinhas lisas e sonhos de vento —
e ninguém me dizia
que o tempo não volta.
Depois, veio o colégio.
O caderno de capa preta,
as palavras que cortavam
mesmo sem eu entender.
A juventude soprou seus avisos:
os sonhos crescem com juros.
E o coração — ingênuo contador de histórias —
insistia em amar o impossível.
Hoje, olho para trás
e vejo um menino que me observa.
Ele não sabe que sou eu.
E eu já não sei mais ser ele.
Mas no meio do caminho,
ainda há aquele quintal —
intacto em alguma dobra do tempo,
onde a vida cabe inteira
entre a goiabeira e a esperança.