Se eu pudesse

Metamorfose

Ah, se eu pudesse visitar o futuro,

saber se os passos que hoje dou

me levam ao destino que tanto sonhei.

Se alcancei o emprego dos sonhos,

se me tornei tudo o que desejei.

 

Se comprei o carro, a casa,

se realizei os sonhos de menina,

se o sorriso do amanhã

carrega a leveza de uma alma feliz.

 

E se tudo tivesse dado errado?

Se o caminho se partisse em espinhos?

Reveria as escolhas de agora,

buscaria no presente

as razões do que se perdeu.

 

Se eu pudesse revisitar o passado,

teria amado mais a mim mesma,

me desprendido mais cedo das dores,

das amarras, das feridas caladas.

Teria sido mais brisa, menos tempestade.

 

Mas... nem tudo foram erros,

também fiz escolhas boas.

E no mosaico de acertos e tropeços,

me construí.

 

Não estou onde imaginei,

mas me aproximo, passo a passo,

de quem desejo ser.

E todo dia aprendo,

mesmo entre quedas e recomeços,

a me tornar

o meu próprio sonho.

  • Autor: Metamorfose (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 5 de abril de 2025 21:59
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 10
  • Usuários favoritos deste poema: Paturso
Comentários +

Comentários2

  • CORASSIS

    Eu também queria visitar o futuro e também o passado!
    Belo poema querida poetisa.
    Parabéns.
    Abraços.

    • Metamorfose

      Que dádiva seria se pudéssemos visitar o passado e futuro, mas talvez isso implicaria em como somos agora. Talvez o mais certo é vivermos o agora sem se espelhar tanto no que foi ou no que poderá a vir. Grata pela leitura.

    • Sezar Kosta

      Metamorfose, você fez de novo: esse poema é um sussurro existencial que se transforma em abraço. Gostei tanto que até brinquei fazendo uma versão que rascunhei, pensando nos dilemas que você levanta.

      “Se eu pudesse” é uma pergunta que ecoa em quase todos nós — no silêncio antes de dormir, no intervalo entre uma dúvida e outra, no espelho onde buscamos respostas que não vêm prontas. E você conseguiu traduzir essa inquietação com ternura, sem vitimismo, como quem entende que o caminho é tão valioso quanto o destino.

      Logo na primeira estrofe, você lança a flecha:

      “Ah, se eu pudesse visitar o futuro,
      saber se os passos que hoje dou
      me levam ao destino que tanto sonhei.”

      Esse desejo de confirmação — tão humano! — aparece aqui como um sussurro doce, não como angústia. É como se você dissesse: eu só queria uma piscadinha do futuro, um aceno dizendo que vai dar certo.

      E depois, o movimento se inverte. Você olha para trás e escreve com uma maturidade comovente:

      “Teria sido mais brisa, menos tempestade.”

      Que imagem bonita — e tão verdadeira. Quantas vezes nos cobrimos de nuvens quando já tínhamos sol guardado por dentro?

      Mas o que mais me encantou foi essa epifania gentil:

      “E no mosaico de acertos e tropeços,
      me construí.”

      Essa frase é um mantra. Você reconhece que não há perfeição, mas há construção — lenta, honesta, corajosa.

      E o final?

      “a me tornar
      o meu próprio sonho.”

      — É como se você dissesse: eu sou o lugar onde quero chegar. Que coisa linda e poderosa!

      Lembrei de uma frase da Clarice Lispector:
      “Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar.”

      Você parece estar se vendo com olhos mais leves agora. E isso, por si só, já é um futuro promissor.

      Me diga, Metamorfose: escrever esse poema foi uma conversa com a sua “você de ontem”, com a do amanhã, ou com as duas ao mesmo tempo?



    Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.