Sabores energia e sentimentos

Ema Machado



Sabores, energia e sentimentos…

Ema Machado 

 

Faxinando minha cozinha, me dei conta, tanto quis meus utensílios, fiz sacrifícios para adquiri-los e hoje percebi a inutilidade do sacrifício.

A batedeira há muito não tem uso, não tenho feito bolos, depois que meus filhos cresceram.

Lembro dos risos, da rapidez com que devoravam tudo que eu produzia, isso, antes de adquirirmos a sonhada batedeira. 

Naquela época, havia sabores que não são encontrados nas melhores iguarias de hoje. 

A gente fazia tudo com amor e recebia olhares de satisfação, bocas apressadas demoravam em segundos, o naco que lhes cabia.

Volto ainda mais longe, minha infância, tão difícil e diferente…

Minha avó produzia quitandas nas gamelas de madeira, eram assadas no forno de barro. Barro retirado do riacho no fundo do quintal, barro que moldava tudo, casas, potes, onde a maioria dos alimentos eram guardados. Nunca mais encontrei sabor e aromas iguais.

Tempos diferentes, energias diferentes e sabores inigualáveis. 

Pães e bolos eram produzidos com sabor de energia da dura labuta, de gratidão pela oferta generosa da terra. A galinha era feliz, criada solta, pondo ovos nutridos. O milho, amarelinho e saboroso, crescendo em seu tempo, saciado pela chuva, pelo sol e terra, sem veneno… A vaca mugia ao longe, bem alimentada pelo pasto, fornecia o leite todas as manhãs, sem hormônios, a manteiga sem plástico e corantes artificiais.

Não havia batedeira, tudo produto braçal, outro sabor, puro alimento.

Olhei o fogão moderno, calado no canto. Já não briga com as panelas, foram guardadas, têm pouca função. 

As crianças comem no trabalho, sem o sabor da proteção, comida repleta de iguarias, sem a energia de casa, aquela que vem do coração.

Quantos funcionários explorados, trabalhando muito, falta energia nas mãos. Embora sem condições, tudo tem serventia, mas falta amor e energia, o alimento é causa de adoecimento de muitos corações.

Fomos felizes sem noção, a gente se dá conta que a maioria do que se tem é sem precisão.

Hoje se gasta energia na academia e a comida balanceada, é só nutrição. Corpos atléticos, almas doentes, tempo de pura ilusão…

Continuo com a faxina, ocupo a mente, é inútil parar no tempo, mas meu passado não foi em vão…

Vivo recarregando a energia, amo tudo que faço,

o amor é solução…

 

  • Autor: Ema Machado (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 21 de março de 2025 21:09
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 7
Comentários +

Comentários1

  • Sezar Kosta

    Ema, que texto profundo e cheio de reflexões! Você soube transmitir de maneira tão sensível e poética a transformação do simples para o complexo, da nostalgia do passado para a realidade do presente. A metáfora da batedeira, que antes representava o afeto e a energia de uma casa cheia de risos e calor humano, agora é apenas um objeto quase sem vida, é um retrato claro de como a modernidade, embora traga conveniência, muitas vezes rouba a essência de experiências mais genuínas.

    As memórias da sua avó e da infância, com o sabor da terra e da labuta diária, revelam o quanto a simplicidade e o cuidado no fazer são essenciais para nutrir não só o corpo, mas também a alma. Essa comida, que não é apenas nutritiva, mas cheia de amor e energia, é um contraste com a alimentação moderna, muitas vezes sem vida, apressada e industrializada. E ao falar sobre como os tempos mudaram, com tanto foco na aparência e no corpo perfeito, mas faltando conexão emocional e verdadeira, você toca em um ponto crucial da nossa sociedade atual.

    A ideia de que o "amor é solução" encerra o texto de maneira sublime, como se fosse um lembrete gentil e verdadeiro de que, independentemente dos avanços e das mudanças, o que realmente importa é a energia com que nos entregamos ao que fazemos e ao que compartilhamos com os outros. Muito belo! Parabéns pela sensibilidade e profundidade dessa reflexão.

    • Ema Machado

      Obrigada, poeta! Amo os comentários detalhados que deixa em meus textos. Meu sincero e carinhoso abraço,



    Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.