Quando me lembrei de mim
já havia nascido
e penteado os cabelos
frente ao espelho
dos olhos da minha mãe
Não me lembro
do meu primeiro aniversário
porém se ainda hoje faço aniversários
é porque um dia já fiz o primeiro aniversário
Não me lembro
da vez que experimentei melão
mas como não gosto de melão
é porque não devo ali ter gostado
Não me lembro
de quando provei o sal do mar
entretanto minha esposa vive me dizendo
que meus beijos são muito salgados
Das milhares de horas em que fui forjado
há tanta coisa que não me recordo
e por isso eu devo ser uma amnésia que fala
mas que não se lembra do que antes foi falado
Minha certidão de nascimento
antecede a minha essência
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Autor:
joaquim cesario de mello (
Offline)
- Publicado: 25 de fevereiro de 2025 14:05
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 17
- Usuários favoritos deste poema: Melancolia...
Comentários5
A existência precede a essência! Muito bom, seu Joaquim!
Acho tão lindo quando você me chama "seu" Joaquim. Porém, Lucas, Joaquim é suficiente
Lindo, como as memorias nos moldam até que nos livremos delas....
Que poema sensível e reflexivo! A forma como você explora as lembranças e a construção de nossa identidade ao longo do tempo é simplesmente genial. Parabéns poeta.
O título fazendo referência a Sartre é genial... Sua escrita, e o conteúdo dela, me fazem refletir mais do que o habitual.
Gostei muito, obrigada por compartilhar.
Parabéns amigo e mestre.
Suas poesias me ajudam a gostar a engatinhar nos versos !
Parabéns .
Abraço.
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