Anjo do corredor

Ludmilla Fernandes

 

De joelhos, um dia pedi em oração:  

"Deus, muda meus planos, guia minha missão."  

E Ele, ouvindo, soprou Seu querer,  

Na enfermagem, aprendi a viver.  

 

No jaleco branco, um sonho bordado,  

Entre aulas, plantões, um futuro traçado.  

No asilo, abraçada a uma doce senhora,  

De "anjo" me chamaram pelo corredor afora.  

 

Eu vi, no toque e no olhar,  

Que a vida é mais do que se pode comprar.  

Ganhei histórias, mudas de plantas, presentes,  

Mas o maior deles foi poder amar tanta gente

 

Cuidar tem laços que o tempo eterniza,  

E a vida dá voltas de forma precisa.  

Tia Eva, que cuidava do portão,  

Me deixava sair da aula e ir pra igreja, em comunhão.  

 

Os anos passaram, o tempo mudou,  

E Deus me chamou pra ser quem cuidou.  

No leito de dor, com a mão em sua mão,  

Fiquei ao seu lado na última oração.  

 

Vi uma mãe de medo chorar,

Seu filho nos braços, sem respirar.

E quando a vida voltou a brilhar,

Eu desabei, sem forças pra andar.

 

Mas nem sempre fui eu quem cuidava,  

Houve um tempo em que a dor me tomava.  

E foram enfermeiros, com mãos estendidas,  

Tornando mais leves as horas sofridas.  

 

Silvia, Raissa, Lara e Ju,  

Com gesto sincero, com olhar tão nu.  

Nos dias difíceis, na longa estadia,  

Foram minha força, minha companhia.

 

Hoje, enfermeira, continuo a buscar,  

Meu lugar no mundo, meu jeito de amar.  

O futuro é um véu que Deus vai abrir,  

E eu sigo confiando, sem medo de ir.

  • Autor: Ludmilla Fernandes (Offline Offline)
  • Publicado: 15 de fevereiro de 2025 09:41
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 10
  • Usuários favoritos deste poema: Melancolia...
Comentários +

Comentários2

  • Melancolia...

    PERFECT...

  • corações sensíveis

    Às vezes o que você precisa enxergar não está no seu campo de visão



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.