Ainda ontem, chamaram-me ao degrau,
soturnos, sisudos, de luvas severas,
olhos de sombra e cálculo,
mãos que falam em cifra e preceito,
como quem vela o inominável,
como quem guarda o inatingível
num cofre de silêncio e sal.
Mas ri e acendi meu cigarro:
"Escada? Não, senhores,
não me curvo ao escopo da pedra,
o vôo me veste melhor."
Houve um tremor, um murmúrio,
um sibilo de cátedra antiga:
"Ícaro, Ícaro… vês, ensinaremos."
Mas o que me ensinam os mortos?
Não é do medo que venho,
não sou cinza de lição antiga,
não me pesa o chumbo dos séculos.
Queima-me o sol? Que importa?
Queima a quem se esconde,
a quem ergue muralhas contra o azul,
a quem crê que o céu se fecha,
a quem chama abismo ao infinito.
Minhas asas não são de cera,
mas de vento e desvario,
não sigo mapas alheios,
nem o compasso dos tíbios.
Voo porque a terra não basta,
porque o horizonte me chama,
porque o azul me promete música.
E se a queda me espera,
que seja nos seios de uma mulher.
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Autor:
PsyDuck (
Offline)
- Publicado: 5 de fevereiro de 2025 13:56
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 10
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