O LOBO QUE COMEU O CORDEIRO

Maria do Socorro Domingos

 

Um pequenino cordeiro
 Com sede e muito faminto,
Foi beber água num córrego
 Bem perto de um labirinto.

 

Deu de cara com um lobo 
Que já bem abufelado,
Disse: — Que fazes aí? 
Dá o fora, ó safado! 

 

Que desaforo é esse,
Turvar a água que eu bebo?
Vou te dar uma lição
Mal educado mancebo.

 

E o cordeirinho, coitado,
Com terrível tremedeira
Pensando achar um jeito,
De debandar na carreira

 

Disse-lhe — É impossível
O rio está na ladeira,

O senhor está  acima
Pertinho da cabeceira.

 

Logo, não posso sujar
A sua água, doutor,
Já que eu estou em baixo
Pois tenho menos valor.

 

O lobo viu a verdade
Na fala do cordeirinho,
Ficou meio atrapalhado
Até torceu o focinho.

 

Mas ele estava faminto,
E não queria perder
Por gula ou por instinto,
Só desejava comer.

 

Então disse: — Seu tratante,
Pobretão desinformado
De um modo revoltante,
Trataste-me no passado.

 

Tu falaste mal de mim,
Inventaste uma mentira
Agora, nem querubim,
Livra - te de minha ira.


— Como? — Disse o cordeiro,
Deve haver algum engano
Juro por Deus verdadeiro,
Que eu nasci este ano.

 

O lobo reconhecendo
A verdade do cordeiro,
De raiva se tremendo
Deu-lhe o golpe derradeiro:

 

— Então foi teu pai, gaiato,
Eu só quero te dizer
Que tu vais pagar o pato,
Porque eu vou te comer.

 

E nhoc! Nem quis saber,
E nem ouviu os lamentos
 É que a força do poder,
Não liga para argumentos.

               ***

(Cordel, de minha autoria,elaborado com base na fábula   de mesmo título,atribuída a Esopo -
 fabulista grego do século VI A.C)

(Maria do Socorro Domingos)

  • Autor: Maria do Socorro Domingos (Offline Offline)
  • Publicado: 3 de fevereiro de 2025 04:15
  • Categoria: Fábula
  • Visualizações: 9


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