Um pequenino cordeiro
Com sede e muito faminto,
Foi beber água num córrego
Bem perto de um labirinto.
Deu de cara com um lobo
Que já bem abufelado,
Disse: — Que fazes aí?
Dá o fora, ó safado!
Que desaforo é esse,
Turvar a água que eu bebo?
Vou te dar uma lição
Mal educado mancebo.
E o cordeirinho, coitado,
Com terrível tremedeira
Pensando achar um jeito,
De debandar na carreira
Disse-lhe — É impossível
O rio está na ladeira,
O senhor está acima
Pertinho da cabeceira.
Logo, não posso sujar
A sua água, doutor,
Já que eu estou em baixo
Pois tenho menos valor.
O lobo viu a verdade
Na fala do cordeirinho,
Ficou meio atrapalhado
Até torceu o focinho.
Mas ele estava faminto,
E não queria perder
Por gula ou por instinto,
Só desejava comer.
Então disse: — Seu tratante,
Pobretão desinformado
De um modo revoltante,
Trataste-me no passado.
Tu falaste mal de mim,
Inventaste uma mentira
Agora, nem querubim,
Livra - te de minha ira.
— Como? — Disse o cordeiro,
Deve haver algum engano
Juro por Deus verdadeiro,
Que eu nasci este ano.
O lobo reconhecendo
A verdade do cordeiro,
De raiva se tremendo
Deu-lhe o golpe derradeiro:
— Então foi teu pai, gaiato,
Eu só quero te dizer
Que tu vais pagar o pato,
Porque eu vou te comer.
E nhoc! Nem quis saber,
E nem ouviu os lamentos
É que a força do poder,
Não liga para argumentos.
***
(Cordel, de minha autoria,elaborado com base na fábula de mesmo título,atribuída a Esopo -
fabulista grego do século VI A.C)
(Maria do Socorro Domingos)