Aviso de ausência de Maria Vanda Medeiros de Araujo
NO
NO
E a boiada passou
Passou calada, tranquila.
Lado a lado
Com o silêncio da ganância
E a impunidade do poder.
Só quem ama
Amazônia
Chora.
Chora lágrimas de látex
Enquanto o Machado canta,
Não canta o sabiá.
E na brevidade do medo
Pássaros mudam de lugar.
As chamas cobrem os céus
Consumindo em fogaréus
Os anos do Jacarandá.
E a boiada passa...
E passa o progresso
Nas rodas dos automóveis,
Nas estradas improvisadas,
No barulho dos motores
Que chega a provocar dores
Nas profundezas das cores
Dos olhos dos micos
Que ficaram sem o lar.
Palavras queimam na língua
De quem se cala.
Não se pensa em preservar,
Em preservar, não se fala.
E os nossos filhos crescerão
Trocando o verde da natureza
Pelo verde do tostão.
E só quem ama
Amazônia
Chora.
- Autor: Maria Vanda Medeiros de Araujo ( Offline)
- Publicado: 29 de julho de 2020 20:09
- Categoria: Natureza
- Visualizações: 25
Comentários3
Poetisa, obrigado pelo poema!
Poema com o teor da tragédia dessa insana realidade.
A poesia é instrumento de protesto e transformação.
Parabéns!
Abraço
Olá vc poeta. Sim essa é uma das funções da poesia.
É. A brasa
Arrasa!
Carvão e carbono
Nas veias do mundo
Em um cinza profundo
Desenha um chão de mortes
E a lâmina tritura a clorofila
Enquanto o chão banhado de plasma
Parece jorrar o carmim
De lágrimas vertidas
De um coração que já não pulsa.
Fogo
Fumaça
Lâmina
Esqueletos torrados
Cremados!
Ó homens, cataclismas!
Onde está teu pulmão?
Respira...
e verás
Sentirás
O ácido
Produzido por tua mão!
Linda...linda sua poesia, Vanda.
Meu coração transbordou. Obrigado!
Você fechou com magnitude. Esse jeito rico de escrever, que só vc tem.
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