Maria Vanda Medeiros de Araujo

Só quem ama... chora.


Aviso de ausência de Maria Vanda Medeiros de Araujo
NO

E a boiada passou

Passou calada, tranquila.

Lado a lado

Com o silêncio da ganância 

E a impunidade do poder.

Só quem ama

Amazônia

Chora.

Chora lágrimas de látex

Enquanto o Machado canta,

Não canta o sabiá.

E na brevidade do medo

Pássaros mudam de lugar.

As chamas cobrem os céus 

Consumindo em fogaréus

Os anos do Jacarandá.

E a boiada passa...

E passa o progresso

Nas rodas dos automóveis,

Nas estradas improvisadas,

No barulho dos motores

Que chega a provocar dores

Nas profundezas das cores

Dos olhos dos micos

Que ficaram sem o lar.

Palavras queimam na língua

De quem se cala.

Não se pensa em preservar,

Em preservar, não se fala.

E os nossos filhos crescerão 

Trocando o verde da natureza

Pelo verde do tostão.

E só quem ama

Amazônia 

Chora.

 

 

 

Comentários3

  • Hébron

    Poetisa, obrigado pelo poema!
    Poema com o teor da tragédia dessa insana realidade.
    A poesia é instrumento de protesto e transformação.
    Parabéns!
    Abraço

  • Carlos Lucena

    É. A brasa
    Arrasa!
    Carvão e carbono
    Nas veias do mundo
    Em um cinza profundo
    Desenha um chão de mortes
    E a lâmina tritura a clorofila
    Enquanto o chão banhado de plasma
    Parece jorrar o carmim
    De lágrimas vertidas
    De um coração que já não pulsa.
    Fogo
    Fumaça
    Lâmina
    Esqueletos torrados
    Cremados!
    Ó homens, cataclismas!
    Onde está teu pulmão?
    Respira...
    e verás
    Sentirás
    O ácido
    Produzido por tua mão!


    Linda...linda sua poesia, Vanda.
    Meu coração transbordou. Obrigado!

  • Maria Vanda Medeiros de Araujo

    Você fechou com magnitude. Esse jeito rico de escrever, que só vc tem.



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