Maria Vanda Medeiros de Araujo

Só quem ama... chora.

E a boiada passou

Passou calada, tranquila.

Lado a lado

Com o silêncio da ganância 

E a impunidade do poder.

Só quem ama

Amazônia

Chora.

Chora lágrimas de látex

Enquanto o Machado canta,

Não canta o sabiá.

E na brevidade do medo

Pássaros mudam de lugar.

As chamas cobrem os céus 

Consumindo em fogaréus

Os anos do Jacarandá.

E a boiada passa...

E passa o progresso

Nas rodas dos automóveis,

Nas estradas improvisadas,

No barulho dos motores

Que chega a provocar dores

Nas profundezas das cores

Dos olhos dos micos

Que ficaram sem o lar.

Palavras queimam na língua

De quem se cala.

Não se pensa em preservar,

Em preservar, não se fala.

E os nossos filhos crescerão 

Trocando o verde da natureza

Pelo verde do tostão.

E só quem ama

Amazônia 

Chora.