E a boiada passou
Passou calada, tranquila.
Lado a lado
Com o silêncio da ganância
E a impunidade do poder.
Só quem ama
Amazônia
Chora.
Chora lágrimas de látex
Enquanto o Machado canta,
Não canta o sabiá.
E na brevidade do medo
Pássaros mudam de lugar.
As chamas cobrem os céus
Consumindo em fogaréus
Os anos do Jacarandá.
E a boiada passa...
E passa o progresso
Nas rodas dos automóveis,
Nas estradas improvisadas,
No barulho dos motores
Que chega a provocar dores
Nas profundezas das cores
Dos olhos dos micos
Que ficaram sem o lar.
Palavras queimam na língua
De quem se cala.
Não se pensa em preservar,
Em preservar, não se fala.
E os nossos filhos crescerão
Trocando o verde da natureza
Pelo verde do tostão.
E só quem ama
Amazônia
Chora.