Agradeço por teres partido,
Pois eu jamais saberia desistir.
Eu me agarrei ao impossível
Mesmo quando o fim
Já sussurrava teu nome.
Via o adeus se arrastar
E preferia fechar os olhos,
Como se ignorar o inevitável
Te mantivesse ao meu lado.
Tínhamos tudo para dar certo:
Nossos risos se encaixavam,
As palavras fluíam no mesmo compasso,
E teu abraço era refúgio,
Casa, segurança.
Havia algo de mágico
No teu sorriso,
Uma leveza que encolhia o mundo
Ao teu redor.
Para mim,
Eras aquela pessoa
Por quem escrevi sonhos.
O que faltou?
Tua vontade de ficar.
Eu repetia:
“Amor é não soltar a mão”,
Certíssimo de que enfrentar tempestades
Nos manteria unidos.
Mas decidiste ir embora,
E subitamente,
Cada jura de amor
Se dispersou ao vento,
Deixando-me sem rumo
E sem respostas.
Gostar de ti
Me ensinou a duvidar menos
E a sonhar com o improvável.
Quando tudo desabou,
Foi a escrita que me manteve
Um pouco mais perto de ti,
Pois, sem tua presença,
Restou-me guardar-te em versos.
Não fui o primeiro a partir,
Mas fui quem mais insistiu em ficar.
Dialoguei com silêncios,
Suplicando na surdina,
E abri meu peito
Para provar que um amor imenso
Merecia seu lugar.
Só entendi depois
Que, às vezes,
O amor mais urgente
É o que damos a nós mesmos
Quando o outro recusa
Nossa mão estendida.
Então, deixa-me ver se compreendi:
Dizias me admirar,
Chamavas-me de incrível,
Mas, no instante em que precisei
Que ficasses,
Tu saíste de mansinho,
Transformando tudo
Num lapso tão breve
Que quase não te marcou,
Mas me partiu sem piedade.
Foi quando me perguntei:
“O que é amar de verdade?”
Acreditei que bastava
Não soltar tua mão,
Sorrir diante dos vendavais,
Ser abrigo nos temporais.
Mas, sem notar,
Ignorei minhas próprias feridas,
Adoecendo sem defesa
Dos teus labirintos.
Meu trauma não me fez forte;
Apenas me deixou em alerta,
Como se a paz fosse armadilha
E o silêncio, um golpe iminente.
Assim, vacilei no abismo
Que se abria entre nós,
Acreditando te conhecer.
Mas lâminas são invisíveis
Quando estamos perto demais,
E só tarde enxerguei
Feridas, cortes,
A frieza que te envolvia
Enquanto eu te protegia.
Hoje, caminho ansioso,
Um pouco perdido,
Procurando um erro
Que possa ser teu,
Algo que justifique meu rancor.
Mas não houve traição,
Apenas uma partida silenciosa
Que me deixou sem norte,
Com o coração estilhaçado
E a mente girando em círculos.
Encaro o teto,
Tentando calar o vazio,
Mas a ansiedade
Me consome por dentro.
Às vezes, precisamos da chuva
Pra valorizar o sol,
E da dor
Pra entender que, talvez,
O amor não era suficiente
Pra vencer a tormenta.
Por mais que doa,
Soltar o que não volta
É a única saída.
Se eu pudesse compor uma canção,
Faria o mundo inteiro
Cantar teu nome,
Pra que sentisses o peso
Desta saudade.
Carrego as mentiras suaves,
Os segredos que guardei,
E o nosso “quase”
Que nunca se completou.
Penso se, no instante
Em que te conheci,
O fim já estava escrito.
Eu queria nunca ter te amado,
Mas amei,
E ainda estou preso
Entre o que fomos
E o que jamais seremos.
Mesmo assim,
Eu esperaria uma vida
Por um único olhar teu
Que não volta mais.
No fim,
Quase fomos tudo.
Quase.
- Autor: Magalhães (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 16 de janeiro de 2025 13:43
- Comentário do autor sobre o poema: Como esse é um dos meus poemas preferidos já feitos por mim, minha mensagem pessoal é um pouco longa. Dito isso, a deixarei na parte dos comentários.
- Categoria: Amor
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Comentários1
1 - O que este poema significa para mim:
Este poema nasceu de uma necessidade de colocar em palavras tudo o que senti diante de um adeus que chegou de mansinho, mas que me abalou por completo. Foi a maneira que encontrei de transformar a dor em algo que pudesse ser expresso, compreendido, e talvez até mesmo compartilhado por outras pessoas que passaram por situações semelhantes. A cada verso, tentei deixar registrado o que significou amar, quase desesperadamente, alguém que acabou partindo antes que eu pudesse compreender os motivos, ou ao menos me preparar para o impacto que esse término causaria.
Em cada palavra, há pedaços de mim que ainda acreditavam que o amor poderia superar tudo, que bastava não soltar a mão e enfrentar juntos qualquer tempestade que surgisse. Porém, quando a outra pessoa decide ir embora, sem grandes explicações, tudo o que sobra é um vazio imenso. E esse vazio se torna ainda maior quando percebemos que não há um grande culpado, não há traição evidente — apenas a conclusão de que já não havia mais a mesma vontade de seguir lado a lado.
Eu quis colocar no poema a tensão entre a esperança e o fim inevitável. Enquanto eu agarrava o que achava ser “amor para sempre”, fui, pouco a pouco, confrontado pelo silêncio do outro, pelo distanciamento sutil que me feriu sem alarde, mas profundamente. É como se cada linha falasse de um sofrimento que se tornou mais real por eu ter ignorado, até o último instante, que as coisas já não eram como antes.
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2 - A “quase” plenitude e a dor de soltar:
O poema termina enfatizando o “quase”, essa sensação de que, por muito pouco, poderíamos ter dado certo. É doloroso encarar que tínhamos afinidade, risadas em harmonia, conversas fluidas e tanta esperança; e, mesmo assim, faltou algo essencial: a vontade de ficar. Quando me pergunto “o que faltou?”, percebo que, por mais que eu quisesse segurar firme, a outra pessoa já tinha se decidido, e isso não há amor no mundo que consiga mudar.
Por isso, também incluí a ideia de que, quando alguém não quer mais segurar nossa mão, talvez o amor-próprio precise entrar em cena, mesmo que de forma tardia. Escrevi sobre a dificuldade de aceitar que, às vezes, a gente precisa cuidar das próprias feridas e não mais tentar curar as do outro, principalmente quando ele já não está presente para partilhar do mesmo cuidado.
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3 - O papel importantíssimo da escrita na minha superação:
Para mim, escrever este poema foi um refúgio, quase uma forma de terapia. Nesses versos, eu derramo as frustrações, a saudade e a decepção. É a maneira que encontrei de manter um diálogo comigo mesmo — e, de algum modo, ainda me sentir próximo de quem se foi. Cada estrofe é, ao mesmo tempo, uma despedida e um recomeço, porque, na medida em que me coloco nas palavras, vou reorganizando as ideias e, de certa forma, deixando-as se dissiparem.
O poema também revela o meu processo de entender e aceitar que o amor pode não ser suficiente. Dói muito, mas, se a outra pessoa não deseja continuar, não há nada que se possa fazer além de soltar, mesmo que isso me deixe sem norte num primeiro momento. E esse abismo, esse vazio, eu transformei em poesia.
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4 - O que eu gostaria que as pessoas sentissem ao ler:
Espero que, ao ler este poema, as pessoas percebam que não estão sozinhas em suas dores. Que amar alguém e não ser correspondido na mesma intensidade é uma ferida que, com o tempo e o autoconhecimento, pode cicatrizar. Que escrever, falar e desabafar, por mais que não mudem os fatos, podem nos ajudar a enxergar com mais clareza o que aconteceu e a encontrar um caminho de cura.
Quero mostrar que o amor é algo lindo, mas, como tudo na vida, precisa ser recíproco. Não basta que só um lado se esforce. E, se a pessoa amada decide ir embora, precisamos aprender a cuidar de nós mesmos, mesmo que o coração demore a aceitar essa realidade. O poema é um lembrete de que cada lágrima, cada lembrança e cada “porquê?” sem resposta, podem ser transformados em versos que, um dia, passarão a significar menos dor e mais aprendizado.
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Muito obrigado por ler até aqui. Esse poema foi um dos mais importantes para mim, pois ele me ajudou a ver o luto como algo que precisa ser vivido, não evitado.
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