Arthur Magalhães

Quase Fomos Tudo

Agradeço por teres partido,
Pois eu jamais saberia desistir.
Eu me agarrei ao impossível
Mesmo quando o fim
Já sussurrava teu nome.
Via o adeus se arrastar
E preferia fechar os olhos,
Como se ignorar o inevitável
Te mantivesse ao meu lado.

Tínhamos tudo para dar certo:
Nossos risos se encaixavam,
As palavras fluíam no mesmo compasso,
E teu abraço era refúgio,
Casa, segurança.
Havia algo de mágico
No teu sorriso,
Uma leveza que encolhia o mundo
Ao teu redor.
Para mim,
Eras aquela pessoa
Por quem escrevi sonhos.
O que faltou?
Tua vontade de ficar.

Eu repetia:
“Amor é não soltar a mão”,
Certíssimo de que enfrentar tempestades
Nos manteria unidos.
Mas decidiste ir embora,
E subitamente,
Cada jura de amor
Se dispersou ao vento,
Deixando-me sem rumo
E sem respostas.

Gostar de ti
Me ensinou a duvidar menos
E a sonhar com o improvável.
Quando tudo desabou,
Foi a escrita que me manteve
Um pouco mais perto de ti,
Pois, sem tua presença,
Restou-me guardar-te em versos.

Não fui o primeiro a partir,
Mas fui quem mais insistiu em ficar.
Dialoguei com silêncios,
Suplicando na surdina,
E abri meu peito
Para provar que um amor imenso
Merecia seu lugar.
Só entendi depois
Que, às vezes,
O amor mais urgente
É o que damos a nós mesmos
Quando o outro recusa
Nossa mão estendida.

Então, deixa-me ver se compreendi:
Dizias me admirar,
Chamavas-me de incrível,
Mas, no instante em que precisei
Que ficasses,
Tu saíste de mansinho,
Transformando tudo
Num lapso tão breve
Que quase não te marcou,
Mas me partiu sem piedade.

Foi quando me perguntei:
“O que é amar de verdade?”
Acreditei que bastava
Não soltar tua mão,
Sorrir diante dos vendavais,
Ser abrigo nos temporais.
Mas, sem notar,
Ignorei minhas próprias feridas,
Adoecendo sem defesa
Dos teus labirintos.

Meu trauma não me fez forte;
Apenas me deixou em alerta,
Como se a paz fosse armadilha
E o silêncio, um golpe iminente.
Assim, vacilei no abismo
Que se abria entre nós,
Acreditando te conhecer.
Mas lâminas são invisíveis
Quando estamos perto demais,
E só tarde enxerguei
Feridas, cortes,
A frieza que te envolvia
Enquanto eu te protegia.

Hoje, caminho ansioso,
Um pouco perdido,
Procurando um erro
Que possa ser teu,
Algo que justifique meu rancor.
Mas não houve traição,
Apenas uma partida silenciosa
Que me deixou sem norte,
Com o coração estilhaçado
E a mente girando em círculos.

Encaro o teto,
Tentando calar o vazio,
Mas a ansiedade
Me consome por dentro.
Às vezes, precisamos da chuva
Pra valorizar o sol,
E da dor
Pra entender que, talvez,
O amor não era suficiente
Pra vencer a tormenta.
Por mais que doa,
Soltar o que não volta
É a única saída.

Se eu pudesse compor uma canção,
Faria o mundo inteiro
Cantar teu nome,
Pra que sentisses o peso
Desta saudade.
Carrego as mentiras suaves,
Os segredos que guardei,
E o nosso “quase”
Que nunca se completou.
Penso se, no instante
Em que te conheci,
O fim já estava escrito.
Eu queria nunca ter te amado,
Mas amei,
E ainda estou preso
Entre o que fomos
E o que jamais seremos.
Mesmo assim,
Eu esperaria uma vida
Por um único olhar teu
Que não volta mais.

No fim,
Quase fomos tudo.
Quase.