O LAVRADOR E SUAS SEMENTES

Elfrans Silva

O LAVRADOR E SUAS SEMENTES
 
Há encantos impressentidos 
Onde a quietude ainda encanta
Lugares esses por nós esquecidos
De sons naturais que males espanta
Os sentimentos, já adormecidos,
Sacodem a razão dos nossos sentidos
Dá paz ao imberbe e ao velho que pranta
 
Podem estar num casebre de tábuas
Das lamparinas que projetam a luz
Mesmo na noite se o recurso acaba
E pelas frestas o luar nos conduz
Um seresteiro na varanda se gaba
Ajeita o chapéu, rafando a barba
A última moda no violão reproduz
 
Canta a canção que a lua lhe inspira
Deixando na face um pranto rolar
Chorando com ele a viola caipira
Sentindo "prazer" de seus dedos roçar
Num de repente, em pausas, respira
Lembra o amor que tão cedo partira
Sem dar-lhes tempo de se perdoar
 
Vai se deitar que a madrugada já vem
Um pisco de olhar, e se faz dia claro
O manto da noite se enrolando além 
A luz matinal, dá-lhe força e amparo
Dá graça aos céus, donde tudo provém
Da água dos rios aos pastos também
Seu mundo diário quer força e preparo
 
Enquanto labuta ao sol braçalmente
Frases lhe vem de suor e emoção
Querendo plantar na alma sofrente,
Nas covas profundas do seu coração
Assim como planta no solo a semente
Sob a terra onde jaz a amada silente
No jazigo cavado, ao lado, no chão
 
É tudo que pode e leva com as flores
São verdes lençóis que'le mesmo plantou
Deita na terra sementes de amores 
Que brotam em torno de quem descansou
Somente aos céus ele pede favores
À São Isidoro, Santo dos Lavradores:
Que guarde na arada quem tanto amou
                   (elfrans silva)
  • Autor: Elfrans Silva (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 12 de janeiro de 2025 22:09
  • Categoria: Triste
  • Visualizações: 10
Comentários +

Comentários2

  • Maximiliano Skol

    Um comovente bucólico poema.
    A poesia é sua amiga e vice-versa, meu prezado Elfrans.
    Que tenha esta semana a contento.
    Forte abraço.




  • Sezar Kosta

    Querido amigo poeta Elfrans,

    Que tesouro de poema você criou! Como você conseguiu capturar com tanta maestria a alma do homem do campo, entrelaçando o sagrado da terra com o sagrado do amor? Sua narrativa é como uma colcha de retalhos feita de luz de lamparina, sons de viola e suor do trabalho.

    Aquela passagem da serenata noturna para o amanhecer é de uma delicadeza cinematográfica. E como você tocou fundo ao mostrar o lavrador plantando não só na terra, mas também no coração, regando memórias junto com suas sementes!

    Me emocionou especialmente a forma como você uniu o trabalho braçal com o trabalho do luto - esse homem que planta flores sobre o jazigo da amada, transformando sua dor em jardim. A invocação a São Isidoro no final é como uma benção que coroa toda essa história de amor e terra.

    Parabéns por essa obra que honra tanto nossa cultura rural e mostra que o amor, como as sementes, continua crescendo mesmo depois que plantamos.



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.