Elfrans Silva
O LAVRADOR E SUAS SEMENTES
O LAVRADOR E SUAS SEMENTES
Há encantos impressentidos
Onde a quietude ainda encanta
Lugares esses por nós esquecidos
De sons naturais que males espanta
Os sentimentos, já adormecidos,
Sacodem a razão dos nossos sentidos
Dá paz ao imberbe e ao velho que pranta
Podem estar num casebre de tábuas
Das lamparinas que projetam a luz
Mesmo na noite se o recurso acaba
E pelas frestas o luar nos conduz
Um seresteiro na varanda se gaba
Ajeita o chapéu, rafando a barba
A última moda no violão reproduz
Canta a canção que a lua lhe inspira
Deixando na face um pranto rolar
Chorando com ele a viola caipira
Sentindo \"prazer\" de seus dedos roçar
Num de repente, em pausas, respira
Lembra o amor que tão cedo partira
Sem dar-lhes tempo de se perdoar
Vai se deitar que a madrugada já vem
Um pisco de olhar, e se faz dia claro
O manto da noite se enrolando além
A luz matinal, dá-lhe força e amparo
Dá graça aos céus, donde tudo provém
Da água dos rios aos pastos também
Seu mundo diário quer força e preparo
Enquanto labuta ao sol braçalmente
Frases lhe vem de suor e emoção
Querendo plantar na alma sofrente,
Nas covas profundas do seu coração
Assim como planta no solo a semente
Sob a terra onde jaz a amada silente
No jazigo cavado, ao lado, no chão
É tudo que pode e leva com as flores
São verdes lençóis que\'le mesmo plantou
Deita na terra sementes de amores
Que brotam em torno de quem descansou
Somente aos céus ele pede favores
À São Isidoro, Santo dos Lavradores:
Que guarde na arada quem tanto amou
(elfrans silva)