EM FRENTE AO ESPELHO

Arlindo Nogueira



No espelho do quarto se via

A sua alegria de apaixonada

Quando era uma enamorada

De um elegante homem joliz

Qual surfista de onda motriz

Que levanta no sopro do ar

No encanto da sereia do mar

No emergir dum mundo feliz

 

Sobre a cama fingia dormir 

Estranho existir da infância

Segredando jeito de criança

Nos riscos rabiscos sem cor

Na mente o desenho da flor

O Príncipe dos olhos verdes

Há criptar no vão da parede

O teu tiritar de fugidio amor

 

Quando dorme você o abraça  

Numa farsa o travesseiro dele

O Príncipe não é mais àquele

Que enquanto menina sonhava

Na magia da mente desenhava

O lindo moço que desapareceu

Tal qual a flor sem seu gineceu

Você o curte porque o amava

 

Se vê no espelho daquele quarto

O salto alto da mulher decidida

Há ainda as noites mal dormidas

Na cama só uma insônia domina

O Príncipe por detrás da cortina

É ainda assombro desde criança

Enamorado fantasia da infância

Que pulsa no coração da menina

 

Qual é o poder que o espelho tem?

É reconhecer de quem é a imagem

Refletida quando se faz passagem

Frente a ele com vestido vermelho

De fenda elegante no fito do joelho

Se o Príncipe fosse a tua verdade

Havia de florir com sensualidade

O teu olhar em frente ao espelho

 

  • Autor: Arlindo Nogueira (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 12 de janeiro de 2025 15:24
  • Comentário do autor sobre o poema: Escrevi a Poesia “Frente ao Espelho”, após ler um dos textos mais famosos de Machado de Assis, “O Espelho”. Esse texto é um pretenso conto filosófico que discute o processo de formação da identidade de cada indivíduo e a relação entre subjetividade e vida social, demonstrando como o olhar dos outros interfere na imagem que fazemos de nós mesmos. No meu poema a protagonista “menina” sonhadora, agora “mulher” decidida, que se vê frente ao espelho, parece ter duas almas. Tal qual li em Machado de Assis, onde a personagem Jacobina cita que as pessoas deveriam ter duas almas: “uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro”. Portanto, a nossa poesia retrata metaforicamente esses dois olhares da alma feminina. No poema, quando a menina sonhava com o Príncipe, pode-se reportar à ciência, que diz ser um período de imaginação do inconsciente. Já quando a mulher de salto alto e decidida, se vê frente ao espelho, tem-se a sensação da realidade. Dessa forma, nossa imagem fica do mesmo tamanho que somos e configura-se numa imagem virtual do nosso corpo. Ou seja, nossa projeção depende do observador para existir. “Se o Príncipe fosse a tua verdade. Havia de florir com sensualidade. O teu olhar frente ao espelho”. Boa leitura da nossa poesia a todos, lembrem-se que bons sonhos com imagens refletidas e invertidas pelo nosso cérebro, devem ser olhadas com as nossas duas almas, de dentro para fora e de fora para dentro. Em Frente Ao Espelho “Drearylands” disse: Toda vez, em frente ao espelho, um outro alguém me espreita e diz que o tempo há tempos se foi e todo o meu tempo foi em vão.
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 5


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