Arlindo Nogueira

EM FRENTE AO ESPELHO

No espelho do quarto se via

A sua alegria de apaixonada

Quando era uma enamorada

De um elegante homem joliz

Qual surfista de onda motriz

Que levanta no sopro do ar

No encanto da sereia do mar

No emergir dum mundo feliz

 

Sobre a cama fingia dormir 

Estranho existir da infância

Segredando jeito de criança

Nos riscos rabiscos sem cor

Na mente o desenho da flor

O Príncipe dos olhos verdes

Há criptar no vão da parede

O teu tiritar de fugidio amor

 

Quando dorme você o abraça  

Numa farsa o travesseiro dele

O Príncipe não é mais àquele

Que enquanto menina sonhava

Na magia da mente desenhava

O lindo moço que desapareceu

Tal qual a flor sem seu gineceu

Você o curte porque o amava

 

Se vê no espelho daquele quarto

O salto alto da mulher decidida

Há ainda as noites mal dormidas

Na cama só uma insônia domina

O Príncipe por detrás da cortina

É ainda assombro desde criança

Enamorado fantasia da infância

Que pulsa no coração da menina

 

Qual é o poder que o espelho tem?

É reconhecer de quem é a imagem

Refletida quando se faz passagem

Frente a ele com vestido vermelho

De fenda elegante no fito do joelho

Se o Príncipe fosse a tua verdade

Havia de florir com sensualidade

O teu olhar em frente ao espelho