O mar negreiro

Tal a distância dos tempos 

E a recordação se me esvai 

Assentado em meus conventos 

A memória me trai 

O sussurro das ondas, sonoro

Meus ouvidos preenche 

Mas nada me recordo 

Que não seja água corrente 

Contamo-nos por inúmeros 

Sem saber a direção 

Com destinos inseguros 

Por uma mísera patação 

Oh, meu amigo de cor 

Que conheço desde tempos idos 

Partilhando dessa minha dor

Entre navios corroídos

Oh, minha paixão 

Que veio em minha companhia 

No interior de um porão 

Sem a presença minha 

Meu olhar percorre a toda gente 

Neste antro de indigência 

A mercê da fria corrente 

Em súplica à sua crensça 

Já não aguento essa dor 

Daqui vou me sair

Em busca do meu amor 

Para juntos partir 

Se alguém me encontrar 

Se vai um grande guerreiro 

Vou morrer

e me encontrar 

Nesse mar negreiro