Nasci dona de mim
Abracei dona dos outros
Comi dona dos gostos
Dancei dona das festanças
Briguei dona da razão
Me machuquei, não obtive perdão
Sorri com menor emoção
Chorei quando descobri a razão
Abaixei a cabeça: subordinação
Me julguei e me vi no latão
Declarei que odiava o padrão
Chorei já fora de estação
Me empenhei na demarcação!
Lutei contra a opressão!
Não.
Definhei.
Pulgão em mundo de formiga,
opressão escondida,
sociedade rompida.
Às vezes penso estremecida: fraca, louca varrida, covarde, mulher corrompida.
- Autor: IF ( Offline)
- Publicado: 26 de julho de 2020 00:54
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 24
Comentários2
Pulgão em mundo de formiga ! Muito bom ! Parabens
O aprendiz, obrigada pela gentileza.
IF, o Chico Buarque, em Janelas Abertas n2, diz os versos mais enigmáticos que conheço dele: "... Sim, eu poderia em cada quarto erguer a mobília
Em cada um matar um membro da família
Até que a plenitude e a morte coincidissem um dia
O que aconteceria de qualquer jeito
Mas eu prefiro abrir as janelas
Pra que entrem todos os insetos"... de alguma.forma, o final do seu NÃO, fez-lembrar... muito o NÃO... parabéns...
Devo admitir que fico dividida com as expressões artísticas de Chico Buarque, mas é evidente que alguns versos me atravessam. Obrigada, ainda não conhecia esses. Como os melhores poemas estão abertos a interpretação subjetiva, esses versos me dizem que apenas a morte pode acarretar a plenitude quando se vive as angustias internas 24h do dia. Portanto, melhor é abrir espaço para os pequenos problemas do dia a dia, todos os pequenos insetos. Afinal, ter de lidar com a vida mais imediatista, reduz a pressão do Eu. Agradeço o comentário, Chico Lino!
Bingo... também preferi os insetos...
Forte abraço,
Continuemos...
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