No espelho, vejo um rosto que já não identifico,
um semblante desnorteado, coberto por lembranças cinzas,
e um reflexo de um eu que se perdeu nas calorias do tempo,
onde o olhar já não brilha, e é carregado de imperfeições.
Caminho pela rua da amargura onde deixei estilhaços de mim,
misturado em pensamentos de uma fome que consumiu,
cada movimento sublinhado pelo acabamento que fui,
e no eco da comida se decompondo sobre mim.
No meu próprio luto, procuro uma inspiração para não descarnar,
mas encontro apenas o vazio do que não foi ingerido,
uma saudade de um padrão que nunca foi alcançável,
e a ideia de abraçar uma forma de desaparecer.
Assim, nesse luto diário, a dor se entrelaça a mim, se tornando parte do corpo,
e o espelho agora, mostra um reflexo de esperança,
mostra que no vazio, existe ainda um espaço florescido.
- Autor: marinapiiress ( Offline)
- Publicado: 16 de dezembro de 2024 21:45
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 8
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