marinapiiress

A ressurreição

No espelho, vejo um rosto que já não identifico,

um semblante desnorteado, coberto por lembranças cinzas,

e um reflexo de um eu que se perdeu nas calorias do tempo,

onde o olhar já não brilha, e é carregado de imperfeições.

 

Caminho pela rua da amargura onde deixei estilhaços de mim,

misturado em pensamentos de uma fome que consumiu,

cada movimento sublinhado pelo acabamento que fui,

e no eco da comida se decompondo sobre mim.

 

No meu próprio luto, procuro uma inspiração para não descarnar,

mas encontro apenas o vazio do que não foi ingerido,

uma saudade de um padrão que nunca foi alcançável,

e a ideia de abraçar uma forma de desaparecer.

 

Assim, nesse luto diário, a dor se entrelaça a mim, se tornando parte do corpo,

e o espelho agora, mostra um reflexo de esperança,

mostra que no vazio, existe ainda um espaço florescido.