É um costume meu utilizar a filosofia como égide para as minha abstrações
Entendendo que ser amigo do conhecimento implica em ser seu escravo e eterno fiel
Eu continuo escrevendo para mim mesmo, esperando que seja postumamente descoberto
Exigindo reconhecimento e aprovação, me achando esperto
É um costume meu querer ser, ao mesmo tempo, compreensivo e radical
Humililde e arrogante
Atento e ignorante
Relevante e insignificante
É um costume meu deixar tudo fluir
Ir aonde deve ir
Ser o que deve ser
Mesmo sabendo que no fim nada deve ser nada e o propósito do que existe é conceito artificial criado por seres humanos desesperados por sentido
E agora que já expus tanto sobre mim
Nada mais justo que falar sobre a realidade dos fatos
Mantida na periferia da maioria das mentes
Que, por excesso de distração e escassez de direcionamento, impõem aos fatos esquecimento
É um costume nosso deixar para amanhã o que podemos fazer hoje
Contudo, o amanhã não existe.
Trata-se de uma abstração criada para definir o que já está aí:
O hoje
O amanhã é ilusório por sempre ser hoje
O hoje é cruel por ser realidade que, sobretudo ao ser consumada, deflagra a nossa insignificância
É um costume nossso normalizar as mortes, os desastres e catástrofes
Pois, em defesa própria, optamos por abrir mão da coletividade
Entendemos não ser seguro exercer a ética estética, a cultura de si
A descoberta da verdade
A liberdade
Tudo é muito doloroso
O tempo é curto
As pessoas não são confiavéis porque eu também não sou
O que é ser confiável?
O que é tudo?
O que é liberdade?
O que é verdade?
Relativização...
Um enorme e perigoso problema da atual civilização
Um problema radical da conjuntura social
E a solução? Não, melhor não. Deixa para amanhã.
É um costume nosso seguir regras em relações de poder por assujeitamento
Aceitar a normatividade imposta, que cerceia a nossa liberdade e torna as nossas vulnerabilidades cada vez mais expostas
É costume nosso eleger como se o voto para algo servisse
Ignorando o fato de que este apenas altera o nosso algoz
É costume nosso clamar por salvação
Pois a religião é, ao mesmo tempo, representação e repúdio a desgraça, a dor, ao sofrimento, ao medo, a solidão
Religião é confissão
Confissão é desnudar o íntimo, o oculto
Religião e confissão é submissão
É costume nosso abrir mão da liberdade em troca de um pouco de segurança
Em troca de um emprego insalubre
Em troca de um salário insuficiente
Em troca de aprovação
Em troca de um amor que valha uma migalha
É costume nosso ignorar a natureza
Não ver que o venta venta
Que a maré mareia
Que o sapo sapeia
Que a girafa girafeia
Que a roda do mundo gira, feia vida
- Autor: Elison Rocha Ferreira (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 26 de novembro de 2024 12:13
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 3
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