ESCÁRNIO

Charles Araújo

ESCÁRNIO

 

Queime até o último fio,  

não importa onde eu caia,  

pois este peito, que outrora gritava,  

já não teme o golpe,  

nem a desordem que consome.  

 

Sou carne, exposta e pulsante,  

dançando nas ondas da emoção,  

o reflexo de tudo que se perdeu,  

remendado por cicatrizes que ainda ardem.  

Que venha o próximo abismo,  

pois antes da decomposição,  

há sempre uma queda a enfrentar.  

 

Aquele sorriso,  

oh, cruel tentação!  

Veneno doce que me envenena.  

Seus lábios, curvados em desdém,  

prendem-me numa prisão sem grades,  

onde o toque é lâmina,  

e o desejo, fogo que consome  

o que resta da razão.  

 

O prazer misturado à agonia  

torna-se o rito da minha desordem.  

Eu me dobro, me entrego,  

sem jamais entender  

se é ela quem me possui  

ou se sou eu quem se rende.  

 

Nas pedras do Hades,  

onde os gritos se calam,  

a carne se desfaz e a alma treme.  

Mas mesmo na dissolução,  

algo clama por mais.  

Mesmo sabendo 

que cada passo  

é outra forma de morrer.  

 

Então Ela ri, insana, cruel,  

e nesse riso eu me perco.  

Minha humanidade se quebra,  

pedaço por pedaço,  

até restar apenas o vazio  

de quem fui um dia.  

 

Que minha sorte seja completa,  

Um último ato de rendição.  

Na verdade crua,  

encontrarei o renascimento.  

E se morrer novamente for o preço,  

que assim seja.  

Pois a dor já não é limite,  

mas forma de existir.  

 

C.Araujo  

 

  • Autor: C.araujo (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 20 de novembro de 2024 00:55
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 4


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