Roberio Motta

Engenho da Saudade

Que doce melodia  

Doce mel da nostalgia  

Mel do dia que se foi  

Hoje é verso que contagia.  

A vida doce com seu tacho  

A cana da vida e seu cansaço  

A doce alma que se espreme  

Fazendo melado enquanto geme!  

Só tu engenho da vida  

Que na caatinga esquecida  

Fazia da espuma doce e batida  

Enquanto o ronco do motor  

Inda chora tua partida.  

Entravam Kaianas  

Saiam águas ardentes  

Nos alambiques sobreviventes  

Dos doces engenhos de canas.  

Saudades do engenho de moer  

Da Varjota distante e sua vida  

Dos bois, do ir e da vinda  

Dos domingos ao dia

Com avô Domingo e a Vó Maria  

Da sede do suor que res ‘pinga’  

Da doce lembrança a doer!  

 

11/07/2020 Estado de Graça do meu CARIRI.

Uma Homenagem aos meus Avós Maternos Domingos Saraiva Né e Maria Canuto Saraiva.

Fazenda Varjota - Ipaumirim,Ceará.

  • Autor: Soldadinho do ARA-ARI-PE (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 22 de Julho de 2020 10:38
  • Comentário do autor sobre o poema: Histórico da Moagem (Meados do século XX): O silencio da noite na Fazenda Varjota era quebrado apenas pelos cambiteiros que com seus animais traziam as canas caianas ou piojotas da Fazenda Capoeira Grande (hoje Fazenda Aiá) e da frente várzea da Fazenda Varjota para o Engenho localizado na sede e pelo sofrido "apito" do motor a vapor inglês de 17 cavalos que sinalizava o ponto da fervura e que veio para acelerar a moagem da cana substituindo a tração animal. A moenda da cana começava pela noite fria abraçando a madrugada e fazendo cozer as garapas em caldeiras extraídas do doce melancólico caldo de cana que era conduzido ao parol(tanque) para a feitura da rapadura que surgiu da necessidade de transportar o açúcar através dos tijolos da história que atravessavam fronteiras acomodados nas mochilas da vida de seus viajantes resistindo tempos e misérias. Dos cambiteiros suados e catantes ecoavam de seus corações versos como este abaixo: "Oh cana boa... é a cana piojota! Lá do sítio da Varjota do Seu Domingos Né. E ela que dá o conforto! E ela que levanta quem tá morto! Então a questão é beber a pinga Que em nós aqui respinga Pro mode ficar de Pé! Todos eram acordados pela madrugada com o som da vida vindo da moagem que exalava da fornalha o doce cheiro do engenho da saudade, do caldo de cana, do mel, da batida, do melaço e do alfinim. Feito verso sem fim! Feito poesia dentro de mim! Na doce Varjota de Outrora Era um privilégio morar naquele Ser-tao!
  • Categoria: Família
  • Visualizações: 86
  • Usuário favorito deste poema: Roberio Motta.

Comentários2

  • R. Barbosa Gameiro

    Dá gosto reparar na forma como as imagens dos versos se crusam ao longo do poema.

    • Roberio Motta

      Gratidao!

      Paz e bem!

      Viva a Vida!

      • Roberio Motta

        Gratidão nobre!

      • Avelino

        Muito bom. Gostei



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