Por muito tempo, através de tantas vozes e momentos, ouvi dizer que, no infinito, as paralelas se encontram. Mas talvez o infinito seja uma espera longa demais para quem apenas contempla de longe, separado por um espaço que não se mede em distância, mas em impossibilidade.
Percebo que uma conexão verdadeira não se define pela proximidade, mas pelo instante que persiste, pulsando em silêncio, como um paradoxo que ocupa o vazio. É uma presença ausente, uma força que desafia o que faz sentido e deixa uma ausência onde, ironicamente, não deveria haver nada.
É inegável: quando próximos, parece que um exala e o outro inala, como se o próprio ar contivesse algo que nunca seremos capazes de traduzir. É um fluxo melancólico de existência, onde cada um segue em sua órbita, e ainda assim conectados – mesmo que essa conexão revele a falta que permanece.
Essa troca intensa e ao mesmo tempo etérea, é como uma sinfonia que apenas nós ouvimos. Há uma força no que é livre, no que flui sem amarras e respira no compasso daquilo que simplesmente é, no instante fugaz que não cabe em nenhuma explicação.
A física afirma que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço... mas pergunto-me se ela entenderia o que é estar próximo e, ao mesmo tempo, inalcançável. Porque, no fim das contas, não é a presença física que sustenta essa ligação, tampouco a razão que tenta dar sentido ao que já nasce sem solução, como um enigma que existe por si só.
Há uma ironia nessa vontade de permanecer, mesmo sabendo que a distância é imutável. Intrigante, como aquilo que não posso ter é o que parece estar mais profundamente entrelaçado a mim, habitando um espaço de ausência compartilhada.
Assim, talvez as paralelas estejam certas: sempre lado a lado, carregando em si a sabedoria de nunca tentar se fundir, e ainda assim, esperando silenciosamente que o seu infinito um dia as alcance. Talvez entendam que, mesmo sem se tocarem, existe uma eternidade que as une — uma promessa de encontro que, embora inalcançável, justifica o próprio caminho.
- Autor: João Pedro Vilela ( Offline)
- Publicado: 31 de outubro de 2024 09:48
- Categoria: Reflexão
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Comentários1
Divagações e pontuações dignas de reflexão.. Eu me senti na escrita. Abraços
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