E se eu soubesse o tempo que me resta
O que eu faria?
Tentaria uma nova fé e me converteria
e nela me lançaria com tanta força
tal qual aquele, que quase afogado
avista um tronco que boia na água
e faz dele sua salvação.
Ou, zangado com os deuses e indignado com a vida
perdendo qualquer fé, esperança ou razão
xingaria e amaldiçoaria tudo e a todos
pensando em como seria eu arrancado
de Gaia antes do tempo.
Ou, diante da triste notícia e
invadido por uma sublime e doce impotência
as lágrimas da dor sentida
ao molharem meus olhos
seriam agora um colírio
que me faria enxergar tudo e a todos
de forma e formato diferente
então…
No bandido veria
… a infância perdida.
No homem violento
… um ser inseguro.
No rico soberbo
… um mendigo de afeto.
No político corrupto
… um analfabeto da ética.
No capitalismo selvagem
… o menino guloso que come sozinho os doces até a barriguinha doer
mas não consegue doar, o que ele não consegue comer.
No horror das guerras
... um muro de ódio construído com os tijolos da ambição.
Nas rugas do ancião
… as linhas tortuosas de um caderno que se chama vida.
Enfim, em mim enxergaria
… uma ínfima e quase invisível partícula do universo
que um dia teve corpo e nome
viveu, chorou e sorriu
como todos os mortais
e agora continua o incrível e maravilhoso mistério da vida
em outro e indefinido lugar
talvez em outro tempo
quem sabe com mais entendimento
enxergando melhor por fim
sem precisar do colírio das lágrimas.
- Autor: Vinicios Cesário (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 23 de abril de 2024 15:13
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 4
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Comentários2
Uma beleza e uma profundidade de se admirar!
Parabéns, Vinicius.
O seu poema enriquece os olhos e a alma de qualquer leitor!
Grande abraço.
Bom dia querida Poeta, obrigado ,suas palavras elogiosas só fazem revelar mais de sua grande sensibilidade, capaz de enxergar nesse poema simples algum valor. Faço minhas suas palavras , " obrigado pelo incentivo". Um forte abraço e um beijo no seu coração.
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