Vou desligar a noite
e acender a luz da manhã
no escutar do vozear dos pardais
no imo dos tímpanos dos meus ouvidos
No cochilar residual da cidade
o silêncio ainda exala resíduos noturnos
logo varridos pelo caminhão do lixo
que atrasado chega para o serviço
enquanto espanto os monstros de volta
ao interior dos armários de onde
vou retirar minha melhor roupagem
e me encobrir de azul claro amarelado
como se eu fosse a aurora do dia
Aos poucos que nem uma aranha
o nascer da alvorada vai tecendo sua teia
no entrançar dos fios madrugados
para capturar os futuros acordados
na trama dos dramas nossos de cada dia
Quem sou para avisar os até agora dormentes
que a noite já se foi carregando consigo os sonhos
e que o Sol nos espera no abrasar suarento
neste verão estufado e calorento à beira-mar
deste imenso Oceano Atlântico nordestino?
No espreguiçar das pálpebras
sou eu quem acendo o dia
- Autor: joaquim cesario de mello ( Offline)
- Publicado: 16 de abril de 2024 07:32
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 8
- Usuários favoritos deste poema: verenavini
Comentários1
Isso sim é um poeta!
Recebi o seu livro meu caro!
Agradeço o carinho.
Vou aprecia-lo do começo ao fim, saborear cada verso e aprender a escrever poema como você.
Obrigado!
abraços.
Caro Rinaldo
Quem muito me abriu os olhos para o verdadeiro ofício de poeta foi Rainer Maria Rilke, que li ainda bastante jovem. Este poeta de língua alemã (de nascimento austríaco), cuja obra tem uma intensidade lírica ímpar, tem um livro, que sugiro a todos lerem, titulado Cartas a Um Jovem Poeta (obra póstuma). Nele comecei a compreender ver a vida em toda sua simplicidade complexa.
Trechos como os abaixo, fizeram-me mudar a forma de olhar das minhas retinas:
“Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples “sou”, então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde”
“Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações?”
Eis, sim, uma leitura reveladora
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