joaquim cesario de mello

O ACENDEDOR DO DIA

 

Vou desligar a noite

e acender a luz da manhã

no escutar do vozear dos pardais

no imo dos tímpanos dos meus ouvidos

 

No cochilar residual da cidade

o silêncio ainda exala resíduos noturnos

logo varridos pelo caminhão do lixo

que atrasado chega para o serviço

enquanto espanto os monstros de volta

ao interior dos armários de onde

vou retirar minha melhor roupagem

e me encobrir de azul claro amarelado

como se eu fosse a aurora do dia

 

Aos poucos que nem uma aranha

o nascer da alvorada vai tecendo sua teia

no entrançar dos fios madrugados

para capturar os futuros acordados

na trama dos dramas nossos de cada dia

 

Quem sou para avisar os até agora dormentes

que a noite já se foi carregando consigo os sonhos

e que o Sol nos espera no abrasar suarento

neste verão estufado e calorento à beira-mar  

deste imenso Oceano Atlântico nordestino?

 

No espreguiçar das pálpebras

sou eu quem acendo o dia