Vinicios Cesário

O cão chupando manga

“O cão chupando manga”

é um dito  popular ,

para alguns   palavra de azar,

para mim tem  bom sentido,

já até havia esquecido

quando  comecei a usar. 

 

Nossos amigos animais 

mesmo  sendo inteligentes

ainda  não podem conversar,

nós,  seres  privilegiados

por Deus abençoados 

até por  letras podemos  falar.

 

Usando a benesse divina

sem cometer o sacrilégio 

das muitas palavras abusar, 

sendo fiel em meu  relato

passarei logo ao fato e o

amigo leitor não cansar.

 

De um  pequenino que anda,

orelha em pé, cabeça baixa 

a barriga roçando no  chão,

tive uma grande surpresa 

com sua grande destreza 

fiquei até sem reação. 

 

Depois de muitas  tarefas, 

corpo exausto,alma moída 

sentei-me  em minha varanda,

sem querer acreditar 

dali podia enxergar 

um  cão chupando manga. 

 

Como se eu estivesse 

em uma galeria de arte,

em um deslumbrante salão, 

observando cada detalhe 

naquele quadro inusitado 

coloquei minha atenção. 

 

Ele, tão simples,tão mortal

sem nenhum conhecimento

de deuses,heróis ou mitologia,

feliz como um deus do Olimpo

sem saber que era observado 

aquele manjar provaria. 

 

A  frutose então  ele lambia 

das  presas o suco escorria 

o pomo com  firmeza segurava,

com talento e maestria 

era senhor de sua vida

e o tempo ele  parava.

 

Comendo fruta feito gente 

desprovido de tantos saberes 

mas repleto de tamanhos sabores,

fazia agora  eu repensar 

além da  minha rotina 

em minha escala de valores.

 

Eu …

muitos bilhões de neurônios 

o mais sábio dos mamíferos, 

vida  sempre muito  agitada,

com trabalho,com moeda 

sem sono,sem sonho

de tudo me ocupava.

 

O  cão… 

neurônios, somente milhões 

sem dólar, sem tostões 

o bolso furado e contendo nada 

sem ofício, sem dinheiro,

sem preço, sem pressa, 

do  alimento desfrutava.

 

Aquela imagem que tinha

por principal personagem 

um amarelo   tão vagabundo,

dizia de maneira inocente 

que a tal  felicidade ,é  

coisa mais simples do mundo.

 

O quatro patas  deitado ali 

sem intenção nem soberba

meu grande professor se tornou,

sem saber letras e dicionário

mudou meu vocabulário,

um novo mundo me mostrou. 

 

E para tudo de mais sublime

ótimo ou excelente

que  agora eu quisesse nomear,

esse novo vocábulo 

com a licença poética 

eu poderia utilizar.

 

Tudo que fosse  elevado 

caberia nessa  sentença,

que aprendi com o  danado,

para alguns era ridículo

desmedido ou descabido 

para mim era engraçado.

 

Bonito,forte, interessante 

grande, excelso ou elegante 

tudo que eu fosse elogiar, 

qual fosse o predicado 

era só em toda frase

o novo adjetivo colar.

 

Tudo assim eu dizia 

entre letrados ou indoutos,

e numa linguagem  coloquial,

de forma  bem simples fiz, 

do “cão chupando manga”

minha expressão original.

 

Todo mensageiro sagrado 

para nós é um preceptor 

que a escola da vida nos deu, 

ele, tendo tantos   alunos  

trilhando seu santo caminho 

um dia  desapareceu.

 

Onde estará meu amigo ?

Talvez em outros quintais 

espreguiçando em outros portões,  

instrutor  muito atuante 

em sua escola itinerante,

ensinando outras lições.

 

Aprendi que no saber,

não há fronteiras de nossa ignorância

que não possamos atravessar, 

prestando  real  atenção

nas coisas simples da vida,

até um cão pode ensinar .

  • Autor: Vinicios Cesário (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 2 de Março de 2024 16:40
  • Comentário do autor sobre o poema: Essa minha humilde poesia que na minha opinião é na verdade um conto, é em parte minha experiência pessoal, pois onde moro sempre ouvi essa expressão " um cão chupando manga " sendo usada quando alguém queria referir -se a alguma coisa ruim, curiosamente eu ao contrário, sempre uso a mesma de forma positiva, quando por exemplo vejo uma pessoa fazendo uma tarefa com habilidade. E ainda, a imagem de um cão alimentando-se assim, tão simples , faz eu pensar que nós humanos complicamos tanto nossas metas de felicidade, ao contrário de nossos amiguinhos de quatro patas.
  • Categoria: Conto
  • Visualizações: 5


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