“O cão chupando manga”
é um dito popular ,
para alguns palavra de azar,
para mim tem bom sentido,
já até havia esquecido
quando comecei a usar.
Nossos amigos animais
mesmo sendo inteligentes
ainda não podem conversar,
nós, seres privilegiados
por Deus abençoados
até por letras podemos falar.
Usando a benesse divina
sem cometer o sacrilégio
das muitas palavras abusar,
sendo fiel em meu relato
passarei logo ao fato e o
amigo leitor não cansar.
De um pequenino que anda,
orelha em pé, cabeça baixa
a barriga roçando no chão,
tive uma grande surpresa
com sua grande destreza
fiquei até sem reação.
Depois de muitas tarefas,
corpo exausto,alma moída
sentei-me em minha varanda,
sem querer acreditar
dali podia enxergar
um cão chupando manga.
Como se eu estivesse
em uma galeria de arte,
em um deslumbrante salão,
observando cada detalhe
naquele quadro inusitado
coloquei minha atenção.
Ele, tão simples,tão mortal
sem nenhum conhecimento
de deuses,heróis ou mitologia,
feliz como um deus do Olimpo
sem saber que era observado
aquele manjar provaria.
A frutose então ele lambia
das presas o suco escorria
o pomo com firmeza segurava,
com talento e maestria
era senhor de sua vida
e o tempo ele parava.
Comendo fruta feito gente
desprovido de tantos saberes
mas repleto de tamanhos sabores,
fazia agora eu repensar
além da minha rotina
em minha escala de valores.
Eu …
muitos bilhões de neurônios
o mais sábio dos mamíferos,
vida sempre muito agitada,
com trabalho,com moeda
sem sono,sem sonho
de tudo me ocupava.
O cão…
neurônios, somente milhões
sem dólar, sem tostões
o bolso furado e contendo nada
sem ofício, sem dinheiro,
sem preço, sem pressa,
do alimento desfrutava.
Aquela imagem que tinha
por principal personagem
um amarelo tão vagabundo,
dizia de maneira inocente
que a tal felicidade ,é
coisa mais simples do mundo.
O quatro patas deitado ali
sem intenção nem soberba
meu grande professor se tornou,
sem saber letras e dicionário
mudou meu vocabulário,
um novo mundo me mostrou.
E para tudo de mais sublime
ótimo ou excelente
que agora eu quisesse nomear,
esse novo vocábulo
com a licença poética
eu poderia utilizar.
Tudo que fosse elevado
caberia nessa sentença,
que aprendi com o danado,
para alguns era ridículo
desmedido ou descabido
para mim era engraçado.
Bonito,forte, interessante
grande, excelso ou elegante
tudo que eu fosse elogiar,
qual fosse o predicado
era só em toda frase
o novo adjetivo colar.
Tudo assim eu dizia
entre letrados ou indoutos,
e numa linguagem coloquial,
de forma bem simples fiz,
do “cão chupando manga”
minha expressão original.
Todo mensageiro sagrado
para nós é um preceptor
que a escola da vida nos deu,
ele, tendo tantos alunos
trilhando seu santo caminho
um dia desapareceu.
Onde estará meu amigo ?
Talvez em outros quintais
espreguiçando em outros portões,
instrutor muito atuante
em sua escola itinerante,
ensinando outras lições.
Aprendi que no saber,
não há fronteiras de nossa ignorância
que não possamos atravessar,
prestando real atenção
nas coisas simples da vida,
até um cão pode ensinar .