Os primeiros peixes haviam saído
Das redes enroladas
Em galhos e algas na linha
Quando vi que meu pai batia
De joelhos no chão do trapiche
Coisa que nunca vi um dia.
Tirando força pra carregá-lo
para dentro da choupana
Em meio a roupas sujas de lama
O meu velho adoentado
Respirava, cuspia e tossia
Com os olhos marejados.
"preciso contar uma história".
Parecia querer sorrir
"receio que tenha chegado
A finada hora de partir.
Mas não ache que é hora ruim
Pois toda história de herói,
Tem início, meio e fim".
Afagou o meu rosto
Com sua mão calejada
E seus olhos cinza- fosco
Com a íris nuveada
Olhavam pra alma minha.
Assustado fiquei, pois isso é
Coisa que nunca vi um dia.
"Quando os paraguaios invadiram
Eu ainda era moço, e disse:
Vou expulsar os que subiram!
Mas ninguém acreditava
Todo mundo me tomava
Como baixo, fraco e covarde.
Mas decidi partir na jornada
Antes que fosse tarde.
Pouco depois do orvalho
molhar a pastagem
Parti com a companhia de Deus
Do cavalo, chuva, lama e coragem.
Levei pouca coisa:
O elmo do seu avô
Arroz cru, farelo de pão,
Escudo nas costas
E espada na mão
"Vencerei os invasores de terra alheia
E Zigmundo Bota-Vermelha
Este nome saberão"!
Eu Montava Aizar,
hanoveriano, alemão,
fácil de cavalgar
Preto como sombra
Forte como tufão
E o som de cada galope
Parecia o de um trovão
Nuvens negras nos seguiam
E raios apareciam
Iluminando todo o chão.
Muito tempo cavalguei
Próximo de dois meses
Mas parecia ser um ano
Quando cheguei exausto e faminto
No burgo São Cipriano.
Cidade murada de pedras
Que brilhavam na nevoeira
Pois eram de mármore
Tiradas da cachoeira
Sagrada para os moradores
E para feiticeiras,
Filhas de Botos
E de Amazonas guerreiras.
A cascata ficava no fundo
E cortava por dentro a cidade.
Junto comigo chegaram
guerreiros altos como torres
De machados na mão
Perguntei de onde eles vinham
"do burgo de São João,
onde o gelo queima o sol
e areia castiga o chão".
Eles me perguntaram
Que elmo estanho eu vestia
Duas asas curvadas para trás
E no topo, uma harpia,
Conforme as luzes do sol
verde-amarelo refletia
"parece peito de beija flor, e isso
É coisa que nunca vi um dia" - disse um deles.
"Sou filho de Stanislaw
Heroi de toda era.
Expulsou o inimigo
Acabou com toda guerra,
Usava essa espada e escudo,
era matador de fera.
Conhecido por esse elmo
E por usar bota vermelha.
Stanislaw Bota-Vermelha
Era seu nome.
Sou Zigmundo Bota-Vermelha
Este é Aizar meu cavalo!
A sombra que nos segue
são das nuvens que nos acompanham!
Mas as luzes dos raios iluminarão nosso caminho!
Vê nosso poder?
Escuta a nossa ira?
Assustados com o que viam,
Outros guerreiros me encaravam,
Uns vinham do sul, outros do cerrado
Um gritava meu nome,
Outro ficava calado,
E eu no pensamento, ria.
Pois diante de todo poder pensavam. Isso é coisa que nunca vi um dia. ".
Meu velho tomou fôlego
Para continuar sua história.
Essa é a História de quando eu, Zigmundo Bota-Vermelha lutou ao lado do Imperador
Dom Pedro III.
Continua...
- Autor: Khristos Rhavi ( Offline)
- Publicado: 5 de julho de 2020 00:04
- Comentário do autor sobre o poema: Primeiro Capitulo de um poema Épico de Cavalaria sem pretensão.
- Categoria: Fantástico
- Visualizações: 32
Comentários2
A sua epopéia começou excelentemente marcada pela métrica que é indispensável neste tipo de poema.
1 ab
Muito obrigado pelo comentario. Essa é uma historia que estou a um tempo querendo contar. Fico feliz que tenha gostado. Colocarei o capitulo II em breve.
Excelente ! Dar para fazer um ou uns Livro(s) de Cordel ! / Paz e Bem Poeta !
As histórias nos livros de cordeis são parte da inspiração dessa história. Eu sempre quis escrever um épico de fantasia que se passe no territorio brasileiro, misturando épocas, fabulas e realidade. Muito obrigado pelo seu comentário. O Capitulo II será lançado em breve.
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.