joaquim cesario de mello

QUARTO ESCURO

 

Escuro não é cor. É ausência.

E a ausência é a privação de tudo:

da luz, dos sons, dos cheiros, do tempo.

Onde não há nada, nada há para se ver

coisa alguma para se conhecer,

a submersão absoluta de tudo.

 

Meu primeiro escuro foi o útero,

mas do útero não me lembro.

Do que me lembro, de onde me lembro,

meu primeiro escuro foi daquele quarto,

onde na ausência das noites sem estrelas

e no abafado das portas fechadas,

o redor desaparece e o mais além inexiste

frente aos assombrados olhos infantis,

no desbotar dos brancos das paredes

 

Se uma vez já morri,

a outra morte que me espera

é voltar ao quarto escuro de antes,

e o dia com seus barulhos nunca mais amanhecer

 

Comentários2

  • Edla Marinho

    Bom dia, poeta!
    Os escuros sempre irão existir, não é?
    Só vão mudando os formatos...
    Como sempre nos brindando com seus belos textos!
    Meu abraço!

  • Shmuel

    Muito bom nobre poeta! Este medo do escuro me acompanha desde os tempos das cavernas.

    Abraços!



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