Escuro não é cor. É ausência.
E a ausência é a privação de tudo:
da luz, dos sons, dos cheiros, do tempo.
Onde não há nada, nada há para se ver
coisa alguma para se conhecer,
a submersão absoluta de tudo.
Meu primeiro escuro foi o útero,
mas do útero não me lembro.
Do que me lembro, de onde me lembro,
meu primeiro escuro foi daquele quarto,
onde na ausência das noites sem estrelas
e no abafado das portas fechadas,
o redor desaparece e o mais além inexiste
frente aos assombrados olhos infantis,
no desbotar dos brancos das paredes
Se uma vez já morri,
a outra morte que me espera
é voltar ao quarto escuro de antes,
e o dia com seus barulhos nunca mais amanhecer